Os bons resultados que alçaram Pernambuco ao quarto lugar no ranking nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), dizem respeito ao desempenho obtido pelos alunos do ensino médio, o antigo segundo grau, ou científico. É a parte que cabe exclusivamente aos estados, segundo o regime de colaboração determinado na Constituição, que determina os deveres de cada ente federativo em relação à educação pública.
Aos municípios, cabe a promoção da educação infantil e dos anos iniciais do ensino médio, além da divisão dos anos finais do ensino fundamental com os estados, que engloba a entrada dos alunos nas creches, o processo de alfabetização e a preparação para a chegada ao ensino médio. Ou seja, da creche ao 9º ano. Na prática, como os estados dispõem de muito mais recursos que as redes municipais, o que tem ocorrido é que, na maioria dos casos, os estudantes já chegam ao ensino médio com uma série de dificuldades que, muitas vezes, não conseguem ser solucionadas em apenas três anos.
Pensando nisso, o Governo de Pernambuco assumiu o desafio de pensar a educação pública de forma mais ampla, procurando diminuir as barreiras que sempre existiram entre a rede estadual e as redes municipais. Na semana passada, foi lançado o Programa Educação Integrada, justamente para fortalecer a relação com os municípios e que irá promover uma série de ações voltadas ao desenvolvimento do ensino fundamental, inicialmente, em 15 municípios. Mas o fato é que, desde 2007, essa colaboração entre Estado e os governos municipais já acontece de forma efetiva, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental, quando ocorre o processo de alfabetização dos estudantes.
Os municípios que participam da parceria assinam um termo de adesão e recebem do Estado o trabalho de formação continuada dos professores. Até 2014, o Governo do Estado manteve uma parceria com o Instituto Ayrton Senna, através do programa Circuito Campeão, que fazia, basicamente, o gerenciamento de alguns indicadores, um trabalho com foco em informações quantitativas. Pelas dificuldades de logística que existiam em relação à metodologia do IAS, as formações ocorriam com grupos de coordenadores que faziam a multiplicação nos municípios. Desde 2015, com o término da parceria com o instituto, quando o Estado assumiu todo o processo de monitoramento e avaliação, as formações voltaram a acontecer diretamente com professores. Hoje, são cerca de 98% dos professores formados pelos técnicos da Secretaria de Educação estadual (SEE) e das Gerências Regionais de Educação (GRE).
O foco desse trabalho de formação oferecido pelo Estado é realizado em cima da perspectiva da alfabetização através do letramento, uma metodologia um pouco diferente dos processos tradicionais de primeiras letras. “Enquanto o método clássico trabalha com o processo da apropriação da escrita, da decodificação, da língua como um produto estático, parado, no letramento o aluno aprende o código da escrita sabendo o seu uso social, inserindo a criança, desde a educação infantil, no gênero textual, buscando uma melhor interpretação de texto”, ensina Ana Morais, gestora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da SEE e responsável pelo programa Alfabetizar com Sucesso, política pública do Estado para a alfabetização.
Outra mudança implementada pelo Estado após a saída do Instituto Ayrton Senna foi a criação de um sistema de informações próprio, o SIAS (Sistema de Informações Alfabetizar com Sucesso), que funcionou como piloto no ano passado e este ano passou a funcionar com todos os 144 municípios parceiros. No SIAS, os coordenadores municipais enviam os dados para as GRE, que fazem o acompanhamento mensal das escolas, com o monitoramento dos indicadores de sucesso (livros lidos, frequência dos professores, reuniões pedagógicas, presença de supervisores ou equipe técnica central nas salas de aula) e de aprendizagem (acompanhamento de todo o processo de leitura e escrita das crianças, do 1º ao 5º ano). “Esse acompanhamento é importante para o professor, pois ele pode observar como está um estudante que ele percebe que não caminhou como deveria. Também dá uma visibilidade grande para o coordenador municipal saber qual a escola em que ele precisa chegar mais perto, propor formações diferentes”, explica a gerente geral de Educação Infantil, Anos Iniciais e Correção do Fluxo Escolar da SEE, Cláudia Roberta Gomes.
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com Sucesso em 30 escolas
Folha Pe