Só de ração, gasta-se mais de R$ 3 mil por mês. São dois sacos grandes, o que dá 40 quilos de comida por dia. Isso sem contar o gasto com remédios, vacina e material de limpeza. O drama de Alberto Ribeiro Bezerra, ou "Seu Alberto", infelizmente, é a realidade de muitos voluntários e donos de abrigos que se doam para cuidar de quem precisa de ajuda para sobreviver. A sua casa serve de moradia para mais de 100 cachorros. O dinheiro para sustentar os "hóspedes" vem, em sua maioria, de doações. Como uma forma de reconhecer a luta desses verdadeiros "escudos" dos animais, um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa de Pernambuco pretende instituir no calendário o 4 de outubro como o Dia Estadual dos Protetores de Animais. A escolha não poderia ser mais justa: é neste mesmo dia que se comemora a festa de São Francisco de Assis, um amante da natureza e padroeiro dos animais e do meio ambiente.
"Ter um reconhecimento mínimo, nem que seja no calendário, já dá uma felicidade. Dedicamos nossa vida para fazer o que é de obrigação do poder público, mas muitas pessoas nos têm como desocupados. Se ao menos tivéssemos um apoio, mas nem isso. Nunca teve 1kg de ração que tenha entrado no abrigo que não fosse por meio de doação", desabafou Seu Alberto, hoje com 60 anos. Sua dedicação aos seus "meninos", como chama os seus cachorros, já vem há mais de 40.
Assim como o Abrigo de Seu Alberto, a dedicação dos membros da Associação Gatinhos da Beira-Rio é diária. Logo nas primeiras horas da manhã e fim de tarde, é possível ver os cuidadores colocando potes de ração e água. Entre as cuidadoras, a autônoma Maria Eunice Pereira, 58. "Quem cuida de animal sabe das dificuldades. As doações ajudam muito, mas também tiramos do nosso bolso porque incentivo da gestão municipal não temos", lamentou ela, que carrega a missão há oito anos. O dinheiro é para castração e compra de vermífugos. Só no Recife, aproximadamente 100 mil animais, entre cães e gatos, vivem nas ruas à espera de um lar.
Com a afirmação da data no calendário, a ativista animal Goretti Queiroz, voluntária da SOS Dentinho, espera que a atividade de protetor e cuidador de animais seja reconhecida e neste dia as escolas e toda a sociedade possam debater a função e a atividade em questão. "Assim como os seres humanos, os animais também são dotados de sentimentos e emoções, eles sentem alegria, saudade, tristeza e medo. Eles também precisam de proteção e cuidados", detalhou.
Passos lentos
Três anos depois da aprovação da lei municipal de tração animal, a promotoria do Meio Ambiente da Capital ainda depende da decisão judicial para que a lei seja, enfim, regulamentada. Conforme publicado pela Folha de Pernambuco, apesar de sancionada, a medida ainda depende de um decreto para passar a funcionar. O decreto pendente determinaria as condições para a aplicação da lei, definindo, por exemplo, para onde os animais recolhidos serão levados, como será feita a fiscalização e o encaminhamento dado às centenas de famílias e trabalhadores que sobrevivem das atividades que realizam com as carroças. A lei aprovada proíbe a exploração de animais no transporte de carga e determina o fim da circulação das carroças puxadas por cavalos, cena comum no Recife. O texto foi admitido em março de 2013 e após um ano deveria entrar em vigor, o que ainda não aconteceu.
Folha PE