Publicada em 20/04/2017 às 09h57.
Odebrecht tentou pagar propina a Eduardo Campos por conta na China, diz delator
Por duas das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) teria recebido R$ 15 milhões de propina.

 

Eduardo em visita à Refinaria Abreu e Lima, em 2013 (Foto: Aluisio Moreira/Governo de Pernambuco)

 

Por duas das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) teria recebido R$ 15 milhões de propina. É o que afirma o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva, que foi diretor da área de engenharia industrial e integrou o Conselho de Administração do braço de óleo e gás da empreiteira. O suposto pagamento teria sido na casa de câmbio Mônaco, no Centro do Recife, depois de tentativas de enviar o dinheiro para uma conta na China.


Faria afirmou aos procuradores que foi procurado em 2009, em São Paulo, por Aldo Guedes, ex-sócio de Eduardo Campos e então presidente da Copergás, a Companhia Pernambucana de Gás. Ele teria solicitado o pagamento de R$ 90 milhões para o Governo de Pernambuco, que daria em troca um apoio da gestão inclusive nas relações sindicais, já que seriam contratados milhares de trabalhadores para o canteiro.


Com a OAS, a Odebrecht ficou com dois contratos da refinaria. Os valores licitados para o consórcio foram de R$ 1.485.103.583,21 para implantar as unidades de destilação atmosférica, UDA, e R$ 3.190.646.503,15 para as de hidrotratamento de diesel e nafta e geração de hidrogênio, HDT.


Para ficar com essas obras, a Odebrecht e a OAS teriam feito mais um acordo de mercado, modalidade ilícita de combinação de preços que era usada pelas empreiteiras em outros projetos também, como a Arena de Pernambuco e o Complexo de Suape. No caso da Refinaria Abreu e Lima, segundo Faria, participaram também a Camargo Corrêa e a Queiroz Galvão. As construtoras já são acusadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em outro inquérito de repassar mais de R$ 41 milhões para Aldo Guedes, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e o empresário João Carlos Lyra, dono do avião usado por Eduardo Campos na campanha presidencial de 2014, quando morreu em acidente aéreo.


O delator da Odebrecht afirmou aos procuradores que Aldo Guedes disse ser o “único representante” do ex-governador. “Já tinha ouvido falar, mas ele demonstrou isso claramente na reunião. Não sei se para demonstrar poder”, afirmou Faria. Segundo o ex-diretor, o ex-presidente da Copergás insistiu em fazer referência à obra de terraplenagem da refinaria, em que o governo também teria sido beneficiado.


A solicitação de R$ 90 milhões não foi aceita, segundo Faria – “Falei: ‘olha, acho que estamos em outro planeta”, relata. O valor oferecido foi de R$ 7,5 milhões pela Odebrecht e R$ 7,5 milhões pela OAS, de acordo com o delator. “Falei com Hilberto (Silva, que dirigia o Setor de Operações Estruturadas, a área para o pagamento de propinas dentro da empreiteira) e disse: ‘Tenho uma dívida com o governador Eduardo Campos, que vai receber através desse aqui (em referência a Aldo Guedes), o valor é esse, estrutura com ele'”, relatou aos procuradores no depoimento.


Faria afirmou que soube pelo gestor do departamento de propinas que foram feitas tentativas de enviar o dinheiro para uma conta na China. “Foi e voltou várias vezes”, disse. O delator contou que, então, Aldo Guedes teria indicado a casa de câmbio Mônaco, para onde teriam sido levados os R$ 7,5 milhões referentes ao pagamento da Odebrecht. O repasse teria sido em real. “E converteu da maneira que achou mais conveniente”, falou no depoimento.


Outro ex-diretor da empreiteira, Carlos Angeiras, também falou sobre a suposta conta na China na sua delação. A conta teria sido informada por João Carlos Lyra para o primeiro repasse que seria para Aldo Guedes referente à obra. Nesse caso, os outros pagamentos também teriam sido na Mônaco, onde Eduardo Campos teria o codinome “Neto”, uma alusão ao ex-governador Miguel Arraes (PSB), seu avô.


A casa de câmbio fechou no ano passado, em meio às investigações da Operação Turbulência, quando Lyra foi preso. O estabelecimento já havia sido alvo da 26ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Xepa, três meses antes.


Além do suposto pagamento para Algo Guedes, Faria falou sobre repasses para as diretorias de Abastecimento e de Serviços da Petrobras, responsáveis pela obra da refinaria. “No caso do abastecimento, de Paulo Roberto Costa, foi um negócio muito difícil porque ele queria valores excessivos”, afirmou. Apesar disso, teriam sido R$ 15 milhões para Costa, pagos pela Odebrecht, e R$ 15 milhões para o ex-deputado José Janene, do PP, que morreu em 2010. “Janene era uma pessoa muito difícil, muito arrogante, se indignou e fez um carnaval”, lembrou ao falar que o ex-parlamentar queria R$ 45 milhões.


Teriam sido pagos ainda R$ 30 milhões para Pedro Barusco, então gerente de Serviços da Petrobras, e R$ 15 milhões para Glauco Colepicolo, gerente do empreendimento – “Prometendo celeridade nas aprovações, o que não ocorreu, mas foi pago”, ironizou Faria.


Rogério Araújo, outro ex-diretor da Petrobras, falou no seu depoimento por que os valores eram repassados. “Paulo Roberto tinha uma presença grande nas reuniões de meta. Chegava e não tocava fogo na fiscalização. Entendia e procurava amenizar (os problemas na obra)”, disse. “Glauco se sentia confortável em tocar os nossos interesses (como a aprovação de aditivos) e sabia que teria o aval do Barusco.”

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