Publicada em 20/04/2017 às 15h07.
Delações da Odebrecht: depoimento detalha pagamento de propina em obras de Suape
Dinheiro teria sido entregue a interlocutores do ex-governador Eduardo Campos e do senador Fernando Bezerra.

Em  depoimento sobre o suposto pagamento de propina para garantir duas obras no Porto de Suape, o delator Carlos Angeiras detalhou o processo e como as transferências eram efetuadas, utilizando uma casa de câmbio e outros meios. Ele chega a dizer que, “na maior parte das vezes”, repassou a vantagem indevida para o ex-secretário executivo de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco, Iran Padilha, dentro da própria secretaria.


“Ia lá no escritório dele [Padilha], na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Na maior parte das vezes eu ia lá”, aponta Carlos Angeiras em depoimento enviado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). 


De acordo com a petição de número 6.671, o dinheiro teria sido entregue aos interlocutores do ex-governador Eduardo Campos, que morreu em um acidente de avião em 2014, e do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), Aldo Guedes e Iran Padilha, respectivamente.


O Partido Socialista Brasileiro (PSB) disse que apoia a decisão do ministro Edson Faquin de quebrar o sigilo das delações dos executivos da Odebrecht. O partido afirmou ainda que vai atuar em todas as instâncias para que a honra do ex-governador Eduardo Campos não seja manchada.

A defesa de Aldo Guedes, apontado na delação como recebedor de propina para o ex-governador Eduardo Campos, informou que por enquanto não vai se pronunciar sobre o caso. Em nota, o senador Fernando Bezerra Coelho classificou o conteúdo das delações como inverídico. O senador reforçou que todas as doações de campanha feitas a ele foram apresentadas e aprovadas pela justiça eleitoral.

 

Porto de Suape fica no Grande Recife (Foto: Ascom/Suape)


Fraude

 

A petição relata um acordo a fim de fraudar o caráter competitivo para a construção do Cais 5 e do Píer Petroleiro, no ano de 2008. Outro ex-executivo da Odebrecht e também delator, João Antônio Pacífico Ferreira, confirmou o pagamento de vantagens indevidas nas duas obras no Porto de Suape. A petição foi devolvida a PGR para nova apreciação. Prevista para custar R$ 85 milhões, a obra do Cais 5 foi inaugurada com o custo final de R$ 125 milhões.


“Fernando Bezerra Coelho era secretário de Desenvolvimento Econômico. Aldo Guedes disse que a gente ia ser procurado por Iran Padilha e que ele teria direito a metade desse percentual que estava acordado, que é de 1,5. E assim foi feito. Fui procurado e acertamos que 1,5% era parra ele. Em nenhum momento, tenho que ressalvar aqui também, Fernando Bezerra Coelho falou de assunto de dinheiro. Agora, doutor Iran Padilha, quando começou a receber esse dinheiro, ele dizia que esse dinheiro era para apoiar o pessoal do grupo de Fernando Bezerra Coelho, o grupo político dele”, disse Angeiras.


O senador Fernando Bezerra Coelho, na época secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco e Presidente do Complexo Industrial de Suape, também teria recebido a propina para a construção do Píer Petroleiro.


As quantias teriam sido pagas para evitar “retaliações” durante as obras do Porto de Suape. A propina teria sido solicitada por Aldo Guedes. O valor dado para cada um, Eduardo Campos e Fernando Bezerra, seguiu a proporção de 1,5% a ser faturado pelas empresas no consórcio CBPO, OAS e Andrade Gutierrez. Segundo o delator, o dinheiro destinado para Aldo Guedes era para apoiar o PSB e a eleição de Eduardo Campos, sem mencionar qual eleição.


Ao longo da delação, Angeiras ainda cita como era feito o pagamento para João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho. Ele diz que encontrou o interlocutor em um shopping no Grande Recife e que lhe foi entregue um papel contendo informações de uma conta. O delator acredita que seja a conta de um banco na China.


Esse teria sido o primeiro pagamento ao interlocutor. Os seguintes teriam sido feitos em uma casa de câmbio. “Sempre naquele sistema de senha, codinome”, aponta ao dizer que o codinome Neto era vinculado a Eduardo Campos. O montante do dinheiro repassado teria chegado a, aproximadamente, R$ 2 milhões.


 

Píer petroleiro

 

Carlos Angeiras também citou, em seu depoimento, a construção do píer petroleiro em Suape. Ele explica que foi designado por João Pacífico para representar a empresa na formação do consórcio para a obra. “Essa era uma obra de mais complexidade ainda do que a outra e nós fomos aí de novo ao mercado pegar as empresas que poderiam competir ou nos dar cobertura nessa licitação”, afirmou.


Angeiras relatou ainda que os preços foram combinados na licitação. “O modus operandi desses pagamentos foi igual do Cais 5, com uma diferença, que todos os pagamentos foram feitos na casa de câmbio. Não teve nenhum pagamento no exterior”, disse.


Na petição, o ministro Edson Fachin ainda lembra que já existe uma denúncia, apurada no inquérito 4.005, contra Campos e Bezerra Coelho. Eles teriam recebido, entre 2010 e 2011, cerca de R$ 20 milhões para a construção da Refinaria Abreu e Lima e R$ 41,593 milhões para assegurar as obras de infraestrutura e incentivos tributários para a implantação do empreendimento. Neste inquérito, ainda são investigados Aldo Guedes e João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho.


G1 não conseguiu contato com Iran Padilha, ex-secretário executivo de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, na época em que o senador Fernando Bezerra Coelho era o titular da pasta.


O empresário João Carlos Lyra, acusado de ser um dos envolvidos na na compra do avião que caiu com o ex-governador Eduardo Campos em agosto de 2014, também foi procurado, mas ele não foi encontrado.


A construtora Andrade Gutierrez informou que não vai se pronunciar sobre o caso. A TV Globo também procurou a construtora OAS, mas não recebemos resposta.

 

 

G1

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