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Por trás da aparente melhora da taxa de desemprego no segundo trimestre (que caiu de 13% para 12,4%), está uma situação alarmante. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE mostra que falta emprego para 27,6 milhões de pessoas, que se enquadram na categoria de subutilizadas. Além disso, o País atingiu um número recorde de 4,8 milhões de pessoas que desistiram de procurar trabalho. A taxa de desemprego caiu, em grande parte, porque milhares de pessoas que gostariam e estariam disponíveis para trabalhar pararam de buscar uma vaga por acreditar que não conseguiriam uma ocupação –os chamados desalentados. Em Pernambuco, a situação é semelhante. O desemprego passou de 18,8% no segundo trimestre do ano passado para 16,9% no mesmo período deste ano, a terceira mais alta do País, atrás de Alagoas (17,3%) e Amapá (21,3%). São 710 mil desempregados. Já a taxa de subutilização é mais do que o dobro, 1,522 milhão. Enquanto isso, 284 mil estão desalentadas.
A categoria subutilizada engloba as pessoas que estão desempregadas ou que trabalham menos do que gostariam e a força de trabalho potencial, formada por pessoas que não estão procurando emprego, mas estão disponíveis para trabalhar. “A taxa de desocupação não é suficiente para traçar um diagnóstico do mercado de trabalho. É preciso mostrar outras medidas, como a subutilização e os indicadores de precariedade, como o número de pessoas com carteira assinada. Em Pernambuco, em quatro anos, houve queda de 16% no número de empregados com carteira assinada”, diz o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
O estudo do IBGE revelou, ainda, outro recorde: mais de três milhões de pessoas já estão há mais de dois anos à procura de emprego. “Quanto mais tempo a pessoa busca emprego, maior a chance de migrar pro desalento”, complementa Cimar Azeredo. Em apenas um trimestre, 202 mil pessoas a mais passaram a essa condição. Em um ano, a precariedade do mercado de trabalho levou ao desalento mais 838 mil indivíduos. São Paulo e o Rio de Janeiro atingiram o menor nível de trabalhadores com carteira assinada.
“A condição extremamente severa do mercado de trabalho deve ser prioridade para o próximo governo, porque tem relação direta com uma série de outras questões, como o bem-estar, a criminalidade. É preciso discutir como fazer a economia crescer e como inserir essas pessoas no emprego", diz o analista da Tendências Consultoria Integrada, Thiago Xavier.
NÍVEL DE OCUPAÇÃO
O próximo governo terá de lidar ainda com outras questões negativas no mercado de trabalho. No segundo trimestre, o nível de ocupação, que mostra a proporção de pessoas trabalhando entre aquelas em idade para trabalhar, estava no menor patamar da série histórica em sete Estados brasileiros: Rondônia, Amazonas, Amapá, Maranhão, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Sul. Na média nacional, o nível de ocupação ficou em 53,7% no segundo trimestre.
“Em nenhum Estado do Nordeste a população ocupada chega a 50% da população em idade de trabalhar. É consequência do desenvolvimento econômico local. Isso vai se refletir em pobreza, em desemprego”, observou Azeredo.
Outro reflexo da precariedade do mercado de trabalho é o aumento da informalidade. Em Pernambuco, aumentou em 15% o número de trabalhadores domésticos sem carteira assinada na comparação anual. “Houve aumento de informalidade por parte das pessoas com menos escolaridade. É o que acontece com os trabalhadores domésticos. As pessoas estão aceitando entrar para a informalidade porque precisam de renda”, comenta o economista do Instituto Fecomercio-PE, Rafael Ramos.
JC