Desde o ano passado, a Microsoft não se faz de rogada e lança cada vez mais soluções próprias para outras plataformas, como o iOS e Android. Muitas vezes, até mesmo soluções não disponíveis para seu próprio sistema operacional, o Windows Phone, aparecem na concorrência.
Para Ewan Spence, especialista nos mercados mobile e digital, a ideia é a mesma utilizada pela Apple em um passado distante, quando a rival, ainda liderada por Bill Gates, dominava: dar aos usuários um gostinho de suas próprias soluções para, no futuro, quem sabe, incentivar uma possível compra. A atual bola da vez nesse sentido é o cliente de e-mail Outlook para iOS e Android.
Considerado por veículos de imprensa como a melhor opção disponível em ambas as plataformas, o app gratuito, mais do que trazer usuários para uma solução da Microsoft, permite que as pessoas continuem utilizando um sistema ao qual já estão acostumadas.
Apesar da popularização do Mac, muita gente ainda utiliza Windows, portanto a tendência de utilizar as mesmas soluções também no celular pode parecer interessante para eles. A Microsoft aposta nisso e, tanto no Outlook quanto no pacote Office e em outras opções, conta com o apoio de sua nuvem proprietária.
Como no Windows Phone, o Outlook permite que um e-mail que foi iniciado no computador continue a ser escrito no celular, enquanto ações como excluir mensagens, arquivá-las ou criar rascunhos também são compartilhadas do mobile para o desktop.
E na hora de comprar um notebook ou quem sabe até um tablet, o usuário pode considerar permanecer com aquilo que já está acostumado. É uma estratégia semelhante à usada há mais de dez anos, quando a Apple trouxe o iTunes para o Windows. Ignorando completamente as sugestões de design de software dadas pela Microsoft na época, o software era necessário para fazer a interface entre músicas armazenadas no computador e o iPod, grande coqueluche da época e responsável por uma revolução no mercado fonográfico.
O programa chegava com a “cara” do Mac OS, permitindo que os usuários conhecessem um pouco sobre como tudo funcionava “do outro lado”. Anos mais tarde, Steve Jobs confirmou que a intenção ao fazer isso era justamente levar as pessoas a cogitarem experimentarem um computador da Apple em um momento de troca.
Ao perceberem que o iTunes era mais bonito e funcional que muitas soluções Windows, os usuários poderiam cogitar uma troca completa de sistema, algo que não seria mais tão estranho assim devido a esse contato inicial com a plataforma. Há controvérsias quanto ao sucesso efetivo dessa abordagem e fica difícil mensurar exatamente o total de usuários que migraram de sistema operacional baseados nessa premissa, contra todas as outras ferramentas de marketing da Apple.
O iPod, e depois, o iPhone, além de seus softwares, foram algumas das ferramentas mais importantes na história da marca para trazer clientes e chamar atenção para seus próprios produtos. Enquanto isso, fica também a dúvida sobre a possibilidade de, no futuro próximo, alguém escolher um celular com Windows Phone ou um Surface no lugar de um MacBook ou um novo iPhone. Isso, claro, pode acontecer, mas também o contrário, com a ideia de que um usuário não precisa mais usar a plataforma Windows para ter acesso a soluções consagradas como o Office ou Outlook, por exemplo.
Canaltech