Publicada em 20/12/2015 às 14h22.
Ditadura vetou indicação de Dom Helder Câmara ao Nobel da Paz
O dossiê, com 229 páginas, abrange aspectos da atuação diplomática na distorção de atos relacionados a Dom Helder

O “irmão dos pobres”, ex-arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, poderia ter sido o primeiro brasileiro a vencer o Prêmio Nobel da Paz, ainda na década de 1970, caso a ditadura militar (1964-1985), sob o comando do general Emílio Garrastazu Médici, não interferisse em sua indicação por quatro anos consecutivos – entre 1970 e 973. A revelação foi feita pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), durante o lançamento do caderno especial Prêmio Nobel da Paz: a atuação da Ditadura Militar Brasileira contra a indicação de Dom Helder Câmara, no Palácio do Campo das Princesas, no Recife.


O dossiê, com 229 páginas, abrange aspectos da atuação diplomática na distorção de atos relacionados a Dom Helder, como as trocas de correspondências entre o Itamaraty e o embaixador do Brasil em Oslo, na Noruega, Jayme de Souza Gomes.


Nelas, constam as estratégias “para neutralizar a candidatura do arcebispo brasileiro” e até questionamento sobre a não escolha do nome de Dom Helder, que seria o “candidato óbvio (para receber) referido prêmio”.


O texto explicita, inclusive, que “a comissão (do) Nobel teve medo (de) apoiar (o) bispo Helder Câmara (por) sua luta contra (o) fascismo (e em) favor (da) justiça social (no) Brasil”.


O presidente da Comissão Estadual da Verdade, Fernando Coelho, comentou que Dom Helder possuía os pré-requisitos ao prêmio por suas atividades humanitárias e luta contra a ditadura militar. Luta esta que, paradoxalmente, lhe tirara a premiação. Afinal, uma vitória do brasileiro geraria visibilidade aos problemas que o País passara à época, como assassinatos, torturas e desaparecimentos.


“Aquilo que Dom Helder denunciava era então contrário aos interesses do País à época e, portanto, ocorreram fatos que ficaram sem o devido registro”, avaliou Coelho, acrescentando que o ex-arcebispo não era apenas cidadão do mundo, mas da paz.


Já o atual arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, se referiu aos documentos como “um presente de Natal” para a Arquidiocese e para a população. “Isso era algo que se especulava muito e agora tem uma documentação comprovando que Dom Helder foi indicado mais de uma vez para receber o Prêmio e opositores fizeram por onde isso não acontecesse”, declarou Saburido. “Mas Dom Helder Câmara estava acima de tudo isso”, acrescentou.


Afilhada de Dom Helder Câmara, a médica holandesa Gabriel Mooren, 46 anos, filha de Francisco Mooren – organizador internacional da campanha em prol de Dom Helder – se disse emocionada porque nessa setxa-feira (18) completou um ano de morte do seu pai e, coincidentemente, houve a divulgação do dossiê. “Meu pai tinha uma conexão com as ideias de Dom Helder. Na Europa, o meu pai era uma espécie de secretário, organizando cerimônias. Ele acreditava que a única maneira de proteger Dom Helder da ditadura militar era tornando ele famoso no mundo”, comentou. “Meu pai está de mãos dadas com meu padrinho lá no céu”, agregou.


Embora não conserte uma injustiça, governador Paulo Câmara (PSB) destacou que o dossiê promove uma reparação história. “É uma singela reparação a um dos maiores representantes da luta pela democracia e pela justiça social do Brasil e do mundo. O governo ditatorial empenhou  esforços diplomáticos para tentar impedir reconhecimento diplomático”, disse.

 

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