Quando todos os olhos estavam voltados para os rumos da política brasileira, com o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara e a proximidade da votação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, a agência de classificação de risco Fitch lembrou que a economia não pode ficar escanteada no rol de prioridades nacional. A agência voltou a rebaixar a nota de crédito do Brasil ontem, cinco meses depois de tirar o grau de investimento do País.
A classificação passou de BB+ para BB e permanece com perspectiva negativa, o que mantém a possibilidade de um terceiro rebaixamento já que não são vistos indícios de uma melhora do quadro econômico.
A Fitch explicou que a decisão reflete uma “contração econômica mais profunda que a antecipada, o fracasso do governo em estabilizar as perspectivas para as finanças públicas e as incertezas políticas que prejudicam a confiança doméstica e reduzem a governabilidade, assim como a eficiência política”. A agência ainda lembra que as perspectivas de crescimento nacional continuam em queda.
Em dezembro, quando tirou o grau de investimento do Brasil, por exemplo, a Ficth esperava que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro fechasse o ano com uma contração de 2,5% e crescesse 1,2% em 2017. Agora, no entanto, prevê uma queda de 3,8% para este ano e um crescimento de 0,5% no próximo. O relatório também alerta para a possibilidade de novos déficits fiscais, o que elevaria para 80% do PIB a dívida pública nacional em 2017 e transformaria o Brasil no país mais devedor do rating BB.
Apesar de mais pessimistas que as anteriores, as previsões não surpreenderam os economistas. “O que está acontecendo é absolutamente normal, porque a situação da economia é grave. Temos dois anos de PIB negativo e uma deterioração acelerada das contas públicas, com o crescimento da relação dívida/PIB. O problema ainda é cristalizado por um caos político que impede a retomada da economia”, afirmou Alexandre Espírito Santo, do Ibmec/RJ.
“A agência não tinha outro caminho, porque as contas públicas estão se deteriorando gradativamente e, mesmo assim, o governo está caminhando na direção contrária do ajuste das finanças públicas, gastando mais com reajustes como o do Bolsa Família”, criticou Jorge Jatobá, da Ceplan, lembrando que, ao rebaixar pela segunda vez a nota brasileira, a Fitch coloca em dúvida a capacidade de pagamento da dívida pública e agrava a restrição ao capital externo, já que investidores e fundos de pensão estrangeiros só investem em países com grau de investimento.
Jatobá reconhece, por sua vez, que as últimas decisões presidenciais não foram as responsáveis pelo novo rebaixamento, o qual viria mesmo com a transição do governo. “Um novo governo pode até mudar a expectativa do mercado, mas não vai melhorar a economia da noite para o dia. O rebaixamento neste momento serve, então, para mostrar que a economia deve ser o tema central de um eventual Governo Temer”, disse.
“Caso assuma, a nova equipe econômica pode tomar medidas duras e necessárias para a estabilização da economia. Mesmo assim, a recuperação será lenta e gradual. Não faria diferença esperar”, finaliza Espírito Santo.
Folha PE