Em uma das principais avenidas da capital, a Agamenon Magalhães, na área central da cidade, funciona um ponto de uso de drogas. Debaixo do viaduto da Avenida João de Barros, o grupo de mulheres se reúne até mesmo na luz do dia. Elas sentam, preparam a droga e acendem o cachimbo com crack várias vezes. Em grupo ou sozinha, a companhia é a do crack. De dia ou de noite, em pontos espalhados pela cidade.
Na Praça da Rua Alexandre Moura, no bairro de Santo Amaro, no Centro do Recife, a reportagem flagrou mulheres preparando a droga e fumando antes mesmo das 19h. Como essa área é militar e fica ao lado do Hospital da Marinha, não faltam câmeras de segurança. Porém, as usuárias de drogas não parecem preocupadas. Sentada na calçada, outra mulher prepara o cachimbo, acende, fuma e vai embora. E a cena se repete outras vezes, com outras mulheres.
Uma jovem que é dependente do crack há quase dez anos já foi presa porque roubou para comprar drogas. “Já fui internada duas vezes. Passei uns dias e saí por causa da abstinência. Consigo [tentar de novo], mas agora não quero”, revelou.
Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco realizada com usuários de drogas em tratamento mostra que 44,9% das mulheres se prostituem em troca de crack ou em troca de dinheiro para comprar a droga. "Eu fico por aí me drogando, me prostituindo por causa do crack. Não vou pra casa, durmo aí mesmo na maré, fazendo programa para poder fumar o crack", conta uma usuária.
Tratamento
Foi por causa do aumento do tráfico e do uso de drogas que a Secretaria de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas foi criada no Recife, no ano passado. Das 219 pessoas em tratamento, acompanhadas pela secretaria, 58 são mulheres.
"O problema do uso das drogas e a dependência química é muito complexo. Depende da sensibilização do usuário em se identificar como dependente e querer se tratar. E tratar uma mulher tem especificidades devido aos seus vínculos familiares muito afetivos. Quando a mulher busca essa ajuda, ela pensa no filho que vai deixar em casa e no marido, por isso tem que haver uma sensibilização grande para que, ao buscar o tratamento, ela não deixe de acompanhar o que deixa em casa", ressalta Fernando Dourado, secretário de enfrentamento ao crack do Recife.
De acordo com a Secretaria de Enfrentamento ao Crack, existem 60 vagas exclusivas para mulheres que queiram se tratar do vício da droga. Elas podem levar os filhos durante o tratamento, que dura de três a seis meses. O número de telefone para informações é (81) 99390-1679.
G1