Publicada em 26/07/2024 às 09h57.
Febre do Oropouche: autoridades investigam se doença causou aborto espontâneo em gestante
Paciente mora em Jaqueira, na Mata Sul. Estado também apura possível relação da infecção pelo vírus com a morte de dois fetos

Culicoides paraensis (menor inseto) culex quinquefasciatus (maior inseto). 


 Autoridades de saúde investigam a possível relação entre a febre do Oropouche e o aborto espontâneo de uma gestante em Pernambuco.


A perda do bebê aconteceu quando a grávida, de 33 anos, estava na 8ª semana da gestação, no final de junho. Ela mora em Jaqueira, na Zona da Mata Sul. 


Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, a grávida apresentou sintomas da febre em 6 de junho.


Os sintomas foram febres, cefaleia, lombalgia, dor esquelética, artralgia, dor retro-orbital, calafrios, fotofobia, náusea, prurido e alteração do paladar. 


"As consequências [da infecção] para o feto ainda estão sendo investigadas", destacou a Opas, que completou: "Foi observada hemorragia uterina durante a 6ª semana de gestação, com aborto em 27 de junho de 2024, na 8ª semana de gestação". 


A amostra de soro da gestante foi coletada em 12 de junho e resultou negativa para detecção molecular para dengue, Zika, chikungunya e Mayaro, e detectável em PCR para o vírus da Oropouche. "Não foi possível coletar amostras do feto para investigação", completou a Opas, que divulgou nota técnica sobre caso.

 

O atual panorama da febre do Oropouche no Brasil foi detalhado pelo Ministério da Saúde (MS), nessa quinta-feira (25).


A pasta do governo federal citou ainda a investigação de dois óbitos fetais também possivelmente relacionados à doença em Pernambuco. Em ambos os casos, as mortes aconteceram com 30 semanas de gestação.

 

As mortes fetais, detalhadas pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), foram em Rio Formoso, na Mata Sul do Estado, e em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife (RMR). As confirmações aconteceram após análises feitas pelo Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE).

 

Por meio de nota enviada à reportagem, a SES-PE confirmou que "continua a investigação dos dois casos de Oropouche nos fetos mortos de Rio Formoso e Ipojuca". Outros dois casos são acompanhados pela pasta, mas as cidades só serão divulgadas "em caso de confirmação da doença".


Transmissão da vertical da febre do Oropouche


Ao todo, no Brasil, há seis casos de transmissão vertical — que acontece quando o vírus passa de mãe para filho — de febre do Oropouche sendo investigados pelo MS.

 

Além dos três casos de Pernambuco — dois que evoluíram para óbito fetal e um para aborto espontâneo — o governo federal apura outro caso na Bahia e dois no Acre.


"A SES-PE não acompanha nenhum caso até o momento de má-formação. Os casos deste tipo anunciados pelo Ministério da Saúde são em outros estados da federação", explicou a SES-PE, também por meio de nota.


Todas as análises relacionadas aos casos estão sendo feitas pelas secretarias estaduais de saúde e especialistas, com o acompanhamento do Ministério da Saúde.


O objetivo da discussão é concluir se há alguma relação entre a febre do Oropouche e os casos de malformação congênita ou aborto.




Febre Oropouche em gestantes despertam alerta nas autoridades de saúde. 


 Diante dos casos de transmissão vertical, o Ministério da Saúde recomenda a intensificação da vigilância na gestação. É sugerido também o acompanhamento dos bebês de mulheres que tiveram suspeita clínica de arboviroses — dengue, zika, chikungunya e febre do Oropouche.


A população, incluindo as gestantes, deve evitar áreas com muitos maruins e mosquitos e também optar por roupas que cubram a maioria do corpo. 


A médica ginecologista e gerente da Gerência de Atenção à Saúde da Mulher (Geasm) da SES-PE, Cleonúsia Vasconcelos, destaca que os efeitos da febre do Oropouche durante a gravidez ainda não são totalmente compreendidos pelo fato de a doença ser autolimitada. 


"Gera a necessidade de monitoramento cuidadoso e gestão adequada. Os profissionais de saúde devem estar atentos para fazer avaliação clínica, ofertar exames diagnósticos e medicações sintomáticas, além de realizar a notificação compulsória", afirmou, completando:


"A gente ressalta que as arboviroses ao adoecerem gestantes podem trazer complicações, merecendo este grupo um acompanhamento próximo, principalmente nas situações de vulnerabilidade. Não há tratamento antiviral específico, sendo o manejo sintomático. Os impactos gerados pelo adoecimento podem atingir o binômio gestante e feto, o que aumenta os desafios na saúde pública"

 

A SES-PE emitiu nota técnica com observações a respeito das implicações e cuidados da febre do Oropouche em mulheres gestantes — leia aqui na íntegra.

 

Febre do Oropouche: casos e mortes no Brasil

 

Duas mortes, as primeiras no mundo em decorrência do Oropouche, foram confirmadas no Brasil — ambas aconteceram na Bahia. 

 

As vítimas eram duas mulheres, de 21 e 24 anos, que não eram gestantes e não tinham comorbidades. A primeira morava na cidade baiana de Valença e morreu em 27 de março. Já a segunda residia em Camamu, mas faleceu em 10 de maio em Itabuna, também na Bahia.


O Brasil já registrou em 2024 um total de 7.236 casos da febre do Oropouche, uma alta de 766,6% em relação ao acumulado de 2023.


Em Pernambuco, foram notificados 86 casos, segundo o último boletim divulgado pela SES-PE, na quarta-feira (24). 


Até o momento, destaca a SES-PE, o vírus oropouche isolado foi identificado em pacientes de 14 municípios pernambucanos: Jaqueira, Pombos, Água Preta, Moreno, Maraial, Cabo de Santo Agostinho, Rio Formoso, Timbaúba, Itamaracá, Jaboatão dos Guararapes, Catende, Camaragibe, Ipojuca e Aliança. 



Febre do Oropouche é transmitido pelo maruim e muriçoca / Foto: Fiocruz. 


Seminário sobre a febre do Oropouche no Recife


 O Ministério da Saúde e a SES-PE promovem, na próxima quinta-feira (1º/8), um seminário sobre a febre do Oropouche no Recife.

O encontro terá a participação de técnicos e gestores de diferentes estados, bem como de especialistas e cientistas. 



FONTE: FOLHA PE.
















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