Publicada em 03/09/2024 às 10h34.
Mpox: quem corre mais risco de se infectar?
Tudo o que os cientistas aprenderam sobre o vírus, que foi declarado uma emergência de saúde global

 Anvisa renova dispensa de registro de duas vacinas contra mpox / Foto: Fiocruz.


 Neste mês, a Organização Mundial da Saúde declarou a mpox uma emergência de saúde global. Anteriormente conhecido como varíola dos macacos, o vírus está se espalhando rapidamente em partes da África, particularmente na República Democrática do Congo.

O surto foi alimentado por uma nova versão do vírus, que também foi identificada na Suécia e na Tailândia.


A situação em rápida evolução gerou ansiedade e confusão sobre quem está em risco de infecção e como o vírus se espalha.


— Entendo por que há preocupação — diz Taimur Khan, diretor associado de pesquisa médica do Fenway Health, um centro médico em Boston. Mas acrescenta: — Não é como se estivéssemos sendo pegos de surpresa da mesma forma que com a Covid-19. É um vírus com o qual estamos familiarizados, até certo ponto, e já temos ferramentas.


Pedimos ao Khan e a outros especialistas que respondessem às perguntas mais comuns sobre o vírus.


O que estamos aprendendo sobre como a mpox se espalha?


À medida que o vírus evolui, nossa compreensão sobre como ele circula também evolui, pontua Rosamund Lewis, responsável técnica da Equipe Global de Resposta à Mpox da Organização Mundial da Saúde.


No surto de 2022, muitos casos foram provocados por contato sexual. A versão mais recente do vírus continua a se espalhar através do sexo, mas os especialistas afirmam que também está circulando de outras maneiras. Essas formas podem incluir interações pele a pele, contato com animais infectados e o toque em superfícies contaminadas, objetos ou tecidos, como roupas de cama e roupas. Pesquisadores estão trabalhando para entender como o vírus pode se espalhar através de gotículas respiratórias e interações prolongadas cara a cara.


— Nem sempre sabemos exatamente qual foi o modo de transmissão em uma situação específica — detalha Lewis.


Os cientistas continuam investigando quando as pessoas são contagiosas. Alguns podem espalhar a mpox dias antes de se sentirem doentes. Até o momento, não há evidências de que pessoas que nunca desenvolvem sintomas possam espalhar o vírus, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA.


Quem está mais em risco?


O risco é maior em países da África Central e Oriental, especialmente na República Democrática do Congo e em nações vizinhas.


— A realidade, agora, é que o risco para os americanos é extremamente pequeno — avalia Carlos del Rio, especialista em doenças infecciosas da Universidade Emory.


Trabalhadores da saúde e pessoas que moram na mesma casa que alguém com mpox estão suscetíveis à infecção. Como o vírus se espalha de forma tão eficiente através do contato íntimo, pessoas com múltiplos parceiros sexuais estão em maior risco de contraí-lo.


Por que algumas pessoas têm casos mais graves do que outras?


A mpox pode causar erupções cutâneas dolorosas, febres, dores de cabeça e musculares, linfonodos inchados e outros sintomas. A maioria das pessoas se recupera dela em um mês, mas o vírus pode ser fatal. A versão em circulação na África parece causar doenças mais graves e ser mais mortal do que a versão que se espalhou em 2022.

 

Bebês e crianças estão em maior risco de ficar gravemente doentes, em parte porque seus sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento. Crianças ficam muito mais doentes, muito mais rapidamente, segundo Lewis. A maior parte das mortes na República Democrática do Congo ocorreu entre crianças com menos de 15 anos.


Pessoas imunocomprometidas, sobretudo àquelas com HIV não tratado, também estão mais propensas a ficar gravemente doentes porque seus sistemas imunológicos não conseguem combater o vírus de forma eficaz. Contrair a mpox durante a gravidez pode levar a complicações, incluindo perda do bebê.


Qual é a situação nos Estados Unidos?


A nova versão da mpox que está se espalhando na África ainda não foi detectada nos Estados Unidos. No entanto, as pessoas ainda estão se infectando com a versão que se espalhou amplamente em 2022. Embora o número de casos esteja atualmente abaixo dos níveis registrados durante aquele surto, ainda houve mais de 1.700 americanos doentes em todo o país este ano — mais do que o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado.

 

— Pessoas ainda estão ficando doentes, e na verdade, as pessoas estão se manifestando menos sobre suas experiências de adoecer, porque isso meio que saiu da percepção pública — opina Joseph Osmundson, professor associado de biologia na Universidade de Nova York.


Quem deve se vacinar? Quanto tempo a vacina protege?


Oficiais de saúde global levantaram preocupações sobre lacunas no acesso à vacina: mesmo que a República Democrática do Congo seja o epicentro do surto atual, por exemplo, não há vacinas disponíveis lá. Os imunizantes são mais acessíveis em países ocidentais e ricos.


— Nossa principal função agora é, honestamente, tentar conter o surto na África e enviar vacinas para lá — explica del Rio.


No Brasil, a ministra da Saúde esclareceu que não haverá vacinação em larga escala contra a mpox.


— Nós vacinamos com uma licença ainda especial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em casos muito excepcionais, para grupos muito vulneráveis, pessoas que tinham tido contato com outras pessoas doentes. Então, a vacinação nunca será uma estratégia em massa para a Mpox— ressaltou Trindade.


Entre o público elegível para a vacinação, estão as pessoas que vivem com HIV/Aids com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses e profissionais que atuam diretamente em contato com o vírus em laboratórios (pré-exposição). Além desses grupos, também está prevista a vacinação para pessoas que tiveram contato direto com os fluidos e secreções corporais de casos suspeitos ou confirmados para a doença (pós-exposição).


Ela acrescentou que os especialistas seguem estudando a eficácia da vacina no enfrentamento da nova cepa, e a dificuldade de aquisição de imunizantes ante a escassez de fabricação em massa de doses.


Os cientistas estão agora estudando por quanto tempo essa proteção dura.


— Não podemos prometer que a vacina será eficaz para sempre — complementa Kelly Johnson, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, em São Francisco.


As pessoas podem contrair a mpox mesmo se estiverem vacinadas, disse ela, mas esses casos tendem a ser menos graves. Ela comparou as vacinas contra o mpox às vacinas contra a Covid.


— Há uma boa chance de que, se você pegar Covid e estiver vacinado, não será uma daquelas pessoas que fica extremamente doente. Acho que a mensagem é muito similar com o mpox.



FONTE: FOLHA PE.





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