Atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 / Foto: Agência Brasil.
O ministro Gilmar
Mendes, 69 anos, é o membro mais antigo da atual composição do Supremo Tribunal
Federal (STF). Está no STF desde junho de 2002, após indicação do então
presidente Fernando Henrique Cardoso e aprovação no Senado Federal com 57 votos
para substituir o ministro José Néri da Silveira, nomeado em 1981 pelo ditador
João Figueiredo, o último presidente do regime militar.
No STF, antiguidade é posto. O
ministro com mais tempo de Casa goza do status de “decano”. Alguém que atua
como ponto de interlocução e de diálogo com demais ministros, como o próprio
Gilmar Mendes define.
Articulado, lida com políticos
e dirigentes de todos os espectros partidários; e ainda atende solicitamente
jornalistas no seu gabinete, decorado com quadros que emolduram entrevistas e
charges nas quais é personagem. Nas sessões do tribunal, sai em defesa da
própria Corte e dos demais ministros quando avalia necessário.
Habituado à conciliação e
também a embates conhecidos nacionalmente, o ministro se abateu com a
destruição do plenário do Supremo em 8 de janeiro de 2023.
“Uma boa parte da minha vida
está associada ao Supremo. É como se uma fotografia ou um filme da minha vida
tivesse sido rasgado”, comparou.
Para ele, ver parte do prédio
do STF destruído provocou emoções que ainda não havia experimentado no longevo
cargo, e gerou “um misto de revolta, de vergonha, e um sentimento de [ter
sofrido] uma agressão”, como expressa em entrevista para o programa Caminhos da
Reportagem, da TV Brasil, com participação da Agência Brasil.
Lágrimas e vandalismo
“E vocês vão se lembrar
de imagens que têm. Quando cheguei em Brasília, vim diretamente para o gabinete
e, em seguida, fui visitar o plenário, que estava sem luzes, estava ainda muito
molhado. E eu, quando fui dar uma entrevista, fui às lágrimas”, lembra o
ministro.
Conforme o relatório da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, o prédio do STF
foi o mais afetado pelo vandalismo da manifestação.
Os danos ao local, incluindo a
recuperação e aquisição de equipamentos, mobiliário, obras de arte, relíquias e
outros objetos, custaram R$ 11,41 milhões aos cofres públicos– bem acima do
verificado no Senado Federal (R$ 3,5 milhões), na Câmara dos Deputados (R$ 3,55
milhões) e no Palácio do Planalto (R$ 4,3 milhões).
Para Gilmar Mendes, a
destruição do prédio foi colérica e resultou de manipulação.
“A gente percebe, pelas
cadeiras arrancadas, pelos danos que causaram, que havia uma raiva intrínseca
que foi, de alguma forma, manifestada nessas agressões. Isso talvez seja fruto
deste envenenamento da opinião das pessoas. Todo esse discurso de que o
problema do Brasil estava no Supremo Tribunal Federal.”
Atuação na pandemia
Na avaliação do decano, o
desengano de parte da opinião pública foi alimentado, por exemplo, quando o STF
decidiu em 2020 que a vacinação compulsória contra a covid-19 era
constitucional.
“Muitos defendiam [que] o
Supremo impediu a política pública de Jair Bolsonaro de ser implementada. Isso
parece uma ironia. Que política pública Bolsonaro estava a defender? A chamada
imunidade de rebanho. Vacina foi comprada graças à determinação do Supremo
Tribunal Federal”, registra.
Para ele, o que a Corte
determinou “foi a aplicação de normas racionais sobre a pandemia, [e] repudiar
o negacionismo, reforçar a posição de governadores que queriam aplicar um
tratamento científico e evitar o uso de placebo, o uso de cloroquina ou
ivermectina. Em suma, o Tribunal teve um papel importante. Muito provavelmente,
pessoas e famílias que foram salvas graças à ação do tribunal, se colocaram
contra o tribunal.”
“São intervenções absolutamente legítimas, evitando que houvesse abusos aqui que agravassem ainda mais a situação da saúde na pandemia, reforçando o papel do SUS. Acho que o tribunal agiu bem. Veja que nós tivemos mais de 700 mil mortos graças a covid. Poderia ter sido maior se o tribunal tivesse sido omisso nesse contexto”, avalia.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL.