Publicada em 17/06/2025 às 11h47.
Abin paralela: PF indicia Bolsonaro, Carlos, Ramagem e outros investigados por espionagem ilegal
Caso passou a ser investigado após reportagens do Globo revelarem uso de sistema espião na gestão passada.

Foto: Divulgação.   


 A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro (PL), o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, no inquérito que investiga o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar adversários e disseminar informações falsas sobre o sistema eleitoral.

Ao todo, mais de 30 pessoas foram indiciadas no caso. A apuração teve início após o Globo revelar, em março de 2023, a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país. A estrutura montada no órgão de inteligência ficou conhecida como "Abin paralela".


Tanto Ramagem como o ex-presidente não comentaram o indiciamento. Em ocasiões anteriores, eles negaram a existência de estrutura paralelas na agência e a participação em espionagens ilegais. A Abin, por sua vez, tem afirmado estar “à disposição das autoridades” e ressaltou que os fatos investigados ocorreram em “gestões passadas”.


Segundo a Polícia Federal, a estrutura paralela produziu dossiês de forma ilegal e atuou para disseminar notícias falsas sobre integrantes da cúpula do Judiciário e do Legislativo, além de um ex-presidenciável, servidores públicos e jornalistas. Também monitorou os passos de milhares de cidadãos de forma clandestina, além de autoridades da cúpula dos três poderes.


Toda essa estrutura, segundo os investigadores, funcionou sob a gestão de Ramagem por ordem de Bolsonaro. Por meio da ferramenta de espionagem, os dados eram coletados de celulares e antenas para conseguir identificar o último local conhecido da pessoa que portava o aparelho.


O inquérito aponta ações contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e os ministros Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Dias Toffoli; o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ex-chefe da Casa Rodrigo Maia; e o ex-governador de São Paulo João Doria, que foi pré-candidato à Presidência, entre outros alvos.


Além de Ramagem, outros alvos do caso Abin são o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que também integravam os quadros da cúpula da agência. Eles negam ter usado as ferramentas da agência para fazer espionagem.


Bolsonaro e Ramagem já são réus em outro caso, que trata da tentativa de golpe, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na denúncia apresentada contra Bolsonaro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou o uso de uma "estrutura paralela" montada na Abin na gestão Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral e provocar animosidade social.


A PF viu relação entre as duas investigações, compartilhou provas, e dedicou um capítulo no relatório sobre as conexões entre a "Abin paralela" e o plano de golpe de Estado.


Segundo os investigadores, uma parte da agência — ou o "núcleo de inteligência paralela" — comandada por Ramagem foi "aparelhada" para viabilizar a manutenção de Bolsonaro na cadeira de presidente.


A PF aponta que Ramagem orientou o presidente a atacar a credibilidade das urnas e adotar uma estratégia mais hostil no enfrentamento contra “o sistema”. Documentos com esse teor foram encontrados em arquivos de um e-mail de Ramagem captado pelos investigadores.


Desafetos


A Polícia Federal aponta que a estrutura paralela montada na Abin durante a gestão de Jair Bolsonaro monitorou ilegalmente políticos, servidores públicos e adversários do ex-presidente.


Como O Globo mostrou, o ex-deputado Jean Wyllys teria tido os passos monitorados pela ferramenta First Mile. Nela, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a localização registrada a partir da conexão de rede do aparelho.


Há indícios também que um servidor do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que encabeçou operações contra garimpeiros e madeireiros ilegais na Amazônia durante a gestão de Bolsonaro também tenha sido monitorado. Hugo Ferreira Netto Loss, então coordenador de Operações de Fiscalização do órgão ambiental, foi exonerado do cargo em abril de 2020.


Servidor de carreira do Ibama, Loss coordenou uma ação contra garimpos em terras indígenas sul do Pará. Durante as operações, fiscais do órgão ambiental destruíram maquinários utilizados pelos criminosos, incluindo a queima de equipamentos que não puderam ser retirados das áreas de reserva.


Também alvo da First Mile, Carlos Alberto Litti Dahmer é representante de uma das principais entidades de caminhoneiros do país. Ele é um dos dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) e convocou protestos contra Bolsonaro.


A PF também apura as circunstâncias de um suposto monitoramento feito em um celular de um servidor do Supremo Tribunal Federal (STF) que atuava na área de tecnologia. Durante o seu mandato, Bolsonaro atacou, de forma sistemática, o Poder Judiciário.


Eleições municipais


Outro ponto que chamou a atenção da PF foi um pico de acessos feitos no programa espião durante as eleições municipais de 2020. Investigadores traçaram um gráfico que mostram o crescimento expressivo de monitoramentos realizados no First Mile durante o período em que foram escolhidos prefeitos e vereadores por todo o país.

 

A lista de monitorados pela Abin incluiria também lideranças de grupos de caminhoneiros e dirigentes de entidades do setor. Após a greve do segmento que paralisou o país em 2018, a agência de inteligência passou a intensificar a coleta de informações sobre ameaças de novos protestos.


Em 2018, quando era pré-candidato à presidência, Bolsonaro parabenizou a categoria pela "luta justa contra mazelas que atingem a população". Em setembro de 2021, quando ele já era o chefe do Executivo, um grupo de caminhoneiros ocupou a Esplanada dos ministérios em apoio ao governo federal e contra o Supremo Tribunal Federal (STF).


"Cercamento"


Durante as apurações, a PF descobriu que a Abin adotava a tática de "cercamento". Na prática, o sistema permitia traçar um mapa em uma determinada região e acompanhar se um determinado alvo transitava na área destacada.


Segundo dados levantados pelos investigadores, esse método foi utilizado em endereço próximo ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Não está claro ainda qual era o motivo dessa vigilância. Mas a PF suspeita que advogados e juízes podem ter sido monitorados.


Outras regiões acompanhadas pela Abin por meio do programa espião chamaram a atenção da PF. Investigadores descobriram que foram monitorados alvos em casas localizadas em uma região nobre de Brasília. Como não há um registro formal de todas as operações, o inquérito apura qual a circunstância dessas vigilâncias e se tem alguma relação com embaixadas localizadas na região.


No Rio Janeiro, a PF descobriu que a Abin acompanhou, por meio da conexão de rede do celular, os passos de algumas pessoas em bairros da zona sul. A justificativa para a utilização da ferramenta na capital carioca era para auxiliar no combate ao tráfico. No entanto, segundo investigadores, não há indícios de que o First Mile tenha sido aplicado em regiões dominadas por organizações criminosas.



FONTE: FOLHA PE.




       

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