O Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol) deflagra, nesta segunda-feira (27), uma série de ações para exigir autonomia de investigação no caso da morte do empresário Paulo César de Barros Morato, encontrado em um motel de Olinda, no Grande Recife, na quarta-feira (22). Às 9h, o presidente da entidade, Áureo Cisneiros, levará ao secretário de Defesa Social (SDS), Alessandro Carvalho, e à gestora da Polícia Científica, Sandra Santos, ofícios para pedir autonomia na apuração sobre as circunstâncias do óbito.
Morato é alvo de investigação da Polícia Federal por suposta participação participação no esquema investigado pela Operação Turbulência. De acordo com o inquérito, empresas de fachada movimentaram mais de R$ 600 milhões e financiaram a campanha do ex-governador Eduardo Campos em 2010 e a compra do avião que o transportou durante sua campanha presidencial em 2014.
O sindicato também vai procurar o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), às 11h, para pedir explicações sobre possível obstrução das investigações. “Estamos começando uma cruzada pela transparência no caso. Acreditamos na Polícia Civil e temos a certeza de que se deixarem a gente investigar, a polícia pernambucana vai elucidar essa morte, seja ela crime ou não”, afirmou Cisneiros.
A decisão de deflagrar essas ações começou a partir de denúncias de supostas ingerências na investigação. De acordo com o Sinpol, peritos papiloscopistas foram impedidos de realizar a coleta de digitais dentro do quarto da vítima. O fato causou "estranheza" à categoria.
A ordem para barrar a perícia, considerada padrão, teria partido do secretário de Defesa Social (SDS), Alessandro Carvalho. “Foi o que a categoria nos passou. Essa investigação está fora do padrão. Os peritos chegaram para fazer a coleta de digitais e outros detalhes, mas receberam uma ordem para nem entrar no quarto. Vamos pedir ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) que apure essa conduta da investigação da morte dele”, contou Cisneiros.
Explicações
Em coletiva na SDS na quinta-feira (23) o secretário em exercício de Defesa Social, Alexandre Lucena, tentou explicar a polêmica. A perícia complementar no motel chegou a ser anunciada, mas não autorizada. De acordo com a pasta, a delegada responsável pelo caso, Gleide Ângelo, não teria colocado em seu relatório a necessidade de continuar a isolar o local. Esse fato será alvo de apuração administrativa.
Nota de repúdio
Com o título “Pelo fim das intromissões políticas na polícia que investiga os crimes”, o sindicato chegou a postar uma nota de repúdio em sua página no Facebook na sexta-feira (24). No texto, a categoria coloca em dúvida a imparcialidade das investigações em torno da morte do empresário.
“Diante dos fatos, uma pergunta ecoa firmemente: a quem interessa uma frágil investigação desse crime? Causaria profunda estranheza o impedimento da perícia técnica na cena de qualquer crime. Mas inegavelmente esse caso envolve elementos pouco comuns e de amplo impacto na sociedade. São muitas questões graves que envolvem o episódio, sobretudo por se tratar de uma testemunha que aparece misteriosamente morta, pouco depois de ter sua prisão preventiva decretada.”, diz a nota.
O texto ainda relembra o importante papel dos peritos papiloscopistas na solução de outros casos delicados como o do médico Arthut Azevedo e levanta a questão de onde, realmente, teria surgido a ordem de interpelar o procedimento no motel.
“Tal ingerência, supostamente perpetrada pelo Secretário de Defesa Social e pela Gestora da Polícia Científica, que estão sob o comando do Governador Paulo Câmara, é inadmissível em um estado democrático de direito e deve ser combatida com o total rigor, tanto contra os emissários quanto aos mandatários desse verdadeiro crime contra a democracia e a justiça (...). Beiramos o fascismo, ou qualquer outro regime ditatorial, quando o Estado se ‘auto sabota’ para atender interesses políticos e particulares, favorecendo a corrupção e a ocultação de graves crimes”.
G1