A carência de infraestrutura urbana atinge severamente as comunidades mais carentes, refletindo-se na saúde e qualidade de vida da população. Nas seis maiores cidades do Estado, 760 mil pessoas residem em 296 áreas irregulares.
Um levantamento nacional aponta que o esgoto - que hoje corre a céu aberto nesses locais - equivale a 36 piscinas olímpicas por dia, cada uma com capacidade para 2,5 milhões de litros. São 32 milhões de metros cúbicos de dejetos por ano, impulsionando o acometimento de doenças e a degradação ambiental. O problema atinge o Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, assim como Caruaru, no Agreste, e Petrolina, no Sertão. De acordo com o poder público, soluções são de longo prazo.
“Trata-se de um problema crônico e que extrapola a esfera do saneamento básico, incluindo carências de habitação e regularização da posse de terra. Observamos vilarejos formados há décadas que, mesmo estando a poucos passos dos grandes centros, parecem invisíveis, sem a obtenção de serviços considerados básicos”, explicou o doutor em saúde pública e coordenador da pesquisa Alceu Galvão.
O estudo apurou a alta incidência de áreas em processo de regularização como Zonas Especiais de Interesse Social, a exemplo da comunidade do Passarinho, no Recife, conforme mostrou, ontem, a Folha de Pernambuco. Para atender a demanda seriam necessárias mais de 230 mil novas ligações.
A pesquisa, promovida pelo Instituto Trata Brasil, alerta que a proximidade com os esgotos leva os moradores a conviverem com doenças como diarreias, hepatite A e problemas de pele. As arboviroses, acentuadas pela proliferação do mosquito Aedes aegypti também são grandes vilãs, trazendo dengue, zika e chikungunya. A entidade recomenda a criação de diretrizes com o apoio do Ministério Público e avalia que o quadro poderia ser revertido. “Parte dos moradores se mostra com capacidade para o custeio das contas, caso fossem atendidos com a prestação do serviço nas torneiras e sanitários. Os programas de tarifação social poderiam ser ampliados, reduzindo o agravo a integridade e ao meio ambiente”, Galvão.
Recife
Os números de atingidos pelo déficit no Recife correspondem a 23% de toda a sua população. São 114 áreas irregulares, onde vivem cerca de 370 mil moradores. Pelo apanhado, apenas 1,6%, 5,8 mil habitantes, tem acesso simultaneamente a água e esgoto. Em separado, o abastecimento de água é oferecido a 36,5 mil habitantes e o de esgoto atende a um contingente ainda menor, de 3,2 mil moradores. A situação é vivenciada todos os dias pela dona de casa Rosemery Santos, 47, moradora da Ilha do Chié, em Campo Grande. “Aqui, quase todos já ficaram doentes. As fossas nós fizemos sozinhos e a água nós tiramos de poços, cavados com a ajuda dos vizinhos”.
Olinda
Em Olinda, 59 ocupações somam quase 91 mil pessoas. Nessas comunidades, 29 mil moradores são atendidos com água e apenas 360 contam com rede de esgoto. Os dois serviços chegam para apenas 646 habitantes dessas áreas, ou seja, menos de 1% dos moradores. Na comunidade Família Feliz, em Peixinhos, a vendedora Ilza Maria, vive em uma casa simples de madeira com os quatro filhos. “Ratos, escorpiões e cobras entram em casa. Para conseguir água dependo de uma cisterna, que às vezes se mistura com a maré”, contou.
Procuradas pela Folha, as prefeituras do Recife e Olinda não delegaram representantes para comentar os indicadores. A assessoria da Compesa informou que ainda estava realizando o levantamento de obras e ações nos municípios citados na pesquisa.
Folha PE