Parece uma pequena caixa de fusíveis com um líquido azul que vai mudando de sítio, passando de um compartimento para outro. O Evatar é feito de tecido humano e contém modelos a três dimensões de ovários, trompas de Falópio, útero, colo do útero e vagina ligados entre si, permitindo a observação dinâmica do ciclo menstrual por um período de 28 dias. Os investigadores dos EUA que desenvolveram esta tecnologia acreditam que vai revolucionar a medicina reprodutiva e avisam que há um projecto ainda mais ambicioso que quer produzir “um corpo num chip”.
O artigo publicado esta terça-feira na revista Nature Communications demonstra, pela primeira vez, que é possível fazer uma cultura de vários tecidos juntos e que esta “mistura” pode funcionar durante algum tempo. Neste caso, a miniatura do aparelho reprodutor feminino funcionou durante um mês, mais precisamente 28 dias, o tempo necessário para que se complete um ciclo menstrual. O modelo permite a produção de hormonas (estrogénio e progesterona) nos folículos dos ovários e a circulação de fluidos entre órgãos, simulando a viagem hormonal que acontece no corpo de uma mulher.
A caixa do Evatar inclui tecidos de ovários, trompas de Falópio, útero, colo do útero e vagina, que estão ligados através de tubos e cabos, num sistema onde circula um líquido azul que imita o sangue. Os investigadores de várias universidades nos EUA que desenvolveram esta tecnologia (chamada microfluídica) incluíram ainda tecido de fígado, porque este órgão metaboliza os fármacos. Uma das mais importantes aplicações deste aparelho reprodutor feminino em miniatura será precisamente testar a resposta a fármacos, avaliando a sua segurança e eficácia.
Mas não só. Segundo os autores do artigo, o Evatar também poderá ser usado para investigar doenças como a endometriose, fibromas, cancro e infertilidade. O objectivo a médio prazo será usar as células estaminais (capazes outros tecidos) de uma doente e criar um modelo personalizado do seu aparelho reprodutor para testar fármacos e encontrar o melhor tratamento.
A longo prazo, esta pequena caixa da mulher poderá vir a ser integrada num projecto mais amplo que está a ser desenvolvido pelos Institutos Nacionais de Saúde e que pretende (re)produzir um corpo inteiro num chip. “Se eu tivesse as suas células estaminais e criasse um coração, um fígado, um pulmão e um ovário, poderia testar dez diferentes fármacos em dez diferentes doses e concluir: ‘Aqui está o medicamento que vai ajudar na sua doença de Alzheimer, Parkinson ou diabetes.’ É a melhor medicina personalizada que pode existir, um modelo do seu corpo para testar fármacos”, diz Teresa Woodruff, uma das autoras do artigo num comunicado da Universidade de Northwestern.
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