Uma cidade refém do tráfico de drogas. No Cabo de Santo Agostinho, município da Região Metropolitana do Recife (RMR), 80% dos crimes registrados na delegacia da cidade têm relação com o problema, segundo dados da Polícia Civil.
Além dos assaltos aos comerciantes do Centro e a turistas nas praias, roubos e homicídios, as brigas entre traficantes também são constantes. Na última delas, no bairro Alto Bela Vista, Mickaella Tahilla dos Santos, 6 anos, voltava da escola na quinta-feira quando foi vítima de uma bala perdida.
“O tráfico de drogas é um problema no Cabo. Muitos crimes são cometidos por rixa ou subtração de patrimônio para financiar o tráfico. Os assaltos aumentaram”, confirmou o delegado do município, Alberis Félix.
Segundo estatística da Secretaria de Defesa Social, os assaltos cresceram 13,8% de janeiro a abril deste ano em relação ao mesmo período de 2015. Cenário que reflete nas vendas do comércio. Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do município, Marli Cavalcante lamenta.
“Vivemos em clima de terror. Isso afeta a clientela. A sensação é de impotência, pois mesmo sabendo que quem domina são os assaltantes, não podemos fechar as portas”, desabafou. Uma farmácia localizada no Centro foi assaltada seis vezes só neste ano.
Uma das vendedoras do estabelecimento, que preferiu não se identificar, comentou o medo. “Sempre que chega alguém que não é conhecido ficamos assombrados, já esperando que seja uma abordagem. É péssimo trabalhar nessa tensão o tempo todo. O Cabo está entregue à violência”.
Na Escola Municipal Vicente Yânez Pizon, no Sítio Histórico Vila de Nazaré, o principal equipamento de lazer das 65 crianças, um aparelho de som, foi levado. A unidade foi arrombada durante a madrugada.
“Há seis anos que dirijo a escola e nunca havia acontecido isso”, lamentou a diretora Maria Sueli Batista. Junto com a professora Luzinete Maria dos Santos, ela fez um cartaz pedindo ao ladrão que devolva o equipamento.
Praias inseguras
Os assaltos também são frequentes na área litorânea.
As queixas são de comerciantes que vivem do turismo nas praias de Calhetas, Itapuama e Pedra do Xaréu.
Antes do cair da tarde, os donos de barracas de praia recolhem seus pertences.
“Somos reféns. Antes, a gente ficava até as 17h. Agora, antes do cair da tarde recolhemos as barracas”, queixou-se a comerciante Maria Helena, 53, que atua em Pedra do Xaréu.
Já o professor Guilherme José Ferreira, relatou os momentos de terror que viveu junto aos alunos quando fazia uma trilha em Calhetas na última semana.
“Estava com mais de 30 pessoas entre crianças e adolescentes, quando formos abordados por cinco assaltantes que tiveram a ousadia de roubar os pertences de cada um”. O proprietário de um depósito de bebidas também re latou a vioência.
“Vivi um dos piores momentos da minha vida quando minha esposa, filha e meu neto ficaram na mira de um revólver. E, pior de tudo é saber que o assaltante era um moleque de 15 anos. Um absurdo”.
Segurança
Responsável pela segurança no município, o comandante do 10º batalhão, o tenente-coronel Reinaldo de Mesquita reconheceu que o tráfico de drogas é o principal problema da cidade.
“Estamos nos esforçando para amenizar as investidas. Temos um efetivo de 200 policiais militares que faz a segurança na cidade. O ideal seria um reforço de mais soldados. O que só será possível após o concurso da PM”, disse o comandante.
FolhadePE