Um dia depois da cerimônia com o presidente Michel Temer (PMDB) para a chegada da água da Transposição do Rio São Francisco à Paraíba, o primeiro estado beneficiado pelo projeto, o senador Humberto Costa (PT-PE), líder da oposição no Senado, anunciou neste sábado (11) a data em que o ex-presidente Lula (PT) vai visitar a obra daqui a uma semana, no dia 19 de março. O petista vai com Dilma Rousseff (PT) a Monteiro, a mesma cidade que o peemedebista participou da solenidade nessa sexta-feira (10).
Ao divulgar a data da visita de Lula e Dilma, Humberto Costa afirmou que a obra só saiu do papel por causa dos dois petistas e criticou Temer. “Quando ela foi tirada do poder, mais de 90% da obra já estavam concluídos (segundo dados do Ministério da Integração Nacional em maio do ano passado, no eixo leste eram 84,4%). E agora aqueles que tomaram o poder por meio de um golpe parlamentar querem tirar uma casquinha na obra da Transposição, querem assumir a paternidade dessa obra”, afirmou o senador.
A obra no eixo leste começou em 2007, no segundo mandato de Lula, com o objetivo de ser entregue três anos depois. Ao todo, foram investidos até agora mais de R$ 8 bilhões.
O eixo leste capta água do São Francisco em Floresta, no Sertão pernambucano, e passa por 217 quilômetros de canais até chegar ao açude de Poções, em Monteiro, onde 33 mil pessoas devem ser beneficiadas. De lá, vai pelo Rio Paraíba até Campina Grande, para atender mais 400 mil pessoas. Ato todo, o objetivo é de levar água às torneiras de 12 milhões de nordestinos – além de Pernambuco e Paraíba, no Ceará e no Rio Grande do Norte.
O problema é que nesses dois estados é o eixo norte que passa e o trecho tem obras paradas desde junho, quando a Mendes Júnior, envolvida na Operação Lava Jato, abandonou o canteiro.
Apesar de boa parte do canal passar em Pernambuco, só 35 mil pessoas devem ser beneficiadas inicialmente. É que a única cidade que tem formas de levar a água ate as torneiras é Sertânia, no Sertão – o município onde fica o reservatório de Barreiros, que teve um vazamento na semana passada. Os outros precisam de obras complementares como o Ramal e a Adutora do Agreste, a primeira que sequer começou a sair do papel e a segunda atrasada por insuficiência de repasses de verbas federais desde 2014.
A chegada da água a Sertânia, no último dia 24, foi marcada por uma visita de Helder Barbalho com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Através da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o tucano, que tem planos de se candidatar à presidência, cedeu bombas para o projeto. Alckmin é só um dos nomes que usam a estratégia de ficar ligados à transposição.
Outro é o próprio Temer. Com baixa popularidade – a avaliação positiva do governo baixou para 10,3% na última pesquisa CNT/MDA, divulgada em fevereiro -, a conclusão da transposição é usada pelo peemedebista para tentar alavancar a imagem positiva no Nordeste, que tem áreas atingidas pela seca há mais de cinco anos.
De olho na movimentação dos dois, o ex-presidente Lula (PT) tem investido na comunicação e na militância para também se aproximar da obra, iniciada em 2007, no seu segundo mandato. A transposição era esperada desde o período do Império e foi promessa dos presidentes anteriores ao petista. De olho nos créditos por ter iniciado a obra, Lula e aliados têm divulgado vídeos nas redes sociais. Essa semana, publicou um vídeo em que afirmou que os seus antecessores estudaram, mas não tiraram a obra do papel. Em clara resposta a Lula, Temer usou o discurso em Monteiro para afirmar que não quer a paternidade da obra, embora tenha feito três visitas em três meses à Transposição.
Ne10