Publicada em 12/04/2017 às 17h22.
Chikungunya pode ter feito mais vítimas
Estudo sugere que mortes causadas pela arbovirose em 2016 tenham sido subnotificadas em Pernambuco. Estado rejeita conclusão.

Aedes aegypt, transmissor da chikungunya, dengue e zikaFoto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas


Uma pesquisa divulgada neste mês sugere que as mortes causadas por Chickungunya no ano passado podem ter sido subnotificadas em Pernambuco. O estudo, publicado na revista Memórias, do Instituto Oswaldo Cruz, mostra um aumento no número absoluto de mortes nos períodos de epidemia da arbovirose em 2016 e, supõe, levou pessoas à óbito ao agravar doenças já existentes. Pacientes com problemas cardíacos ou respiratórios, por exemplo. O Estado, por sua vez, considera conclusão precipitada e contesta a pesquisa.

De acordo com o clínico geral Carlos Brito, membro do Comitê Técnico de Arboviroses do Ministério da Saúde e um dos autores do estudo, o trabalho foi motivado por uma percepção subjetiva da subnotificação. “Na vivência prática, principalmente nas visitas aos hospitais, sentíamos que os casos ocorriam mais que os dados oficiais mostravam. 

Principalmente quando os médicos não estavam familiarizados com os sintomas por se tratar de uma doença nova para eles. Então, se a o quadro de infecção da Chikungunya agravava o caso de uma pessoa com problema cardiovascular e ela morria, só a causa final do óbito era registrada. Nesse caso, por exemplo, um infarto”, relatou o médico.

Por falta de dados oficiais do Estado (os números de 2016 serão consolidados e divulgados neste ano) e desatualização dos números do Ministério da Saúde, Brito escolheu utilizar dados do Sistema de Internação Hospitalar (SIH) para o estudo. Eles mostravam que, no ano passado, cerca de 4,2 mil pessoas morreram a mais que a média dos quatro anos anteriores.

A pesquisa faz questão de explicar que não propõe que todas essas pessoas morreram por chikungunya, mas sugere subnotificação. “Não é uma coincidência. Porque também fizemos uma análise do contexto e não há nenhuma situação anormal que aumentasse muito as mortes, como uma guerra que aumentaria as mortes violentas. Em estados com epidemia houve aumento. Os outros, não”, afirmou Brito.

Para o diretor de Controle de Doenças e Agravos da Secretaria Estadual de Saúde (Ses), George Dimech, a pesquisa foi precipitada. “O SIH não é o banco de dados ideal para fazer essa comparação. Ele é utilizado para fins de pagamento de internações e pode não ter as causas mortis registradas com toda a precisão. É preciso aguardar os números oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (Sim)”, avaliou. Dimech ainda afirmou não achar dados citados pelo estudo no SIH. Segundo ele, as internações por doenças infecciosas e parasitárias chegaram a diminuir em 2016.

A diretora do Sistema de Verificação de Óbitos (SVO) do Estado, Patrícia Ismael, defendeu que seria arbitrário registrar mortes como causadas pela arbovirose sem antes fazer um estudo de toda a história clínica do paciente. “Temos uma equipe multidisciplinar que vai na casa do paciente. Há uma longa investigação.”
Folha de PE

 

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