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Para a maioria dos brasileiros, a Meta errou ao encerrar o programa de checagem independente de fatos para combater fake news e substituí-lo pelo recurso de “Notas de Comunidade".
A decisão foi anunciada pela gigante das redes sociais no início do ano. Nove em dez usuários também entendem que a empresa deveria ter mais responsabilidade na remoção de conteúdo e colaboração com autoridades.
Pesquisa feita com usuários de redes sociais de seis países latino-americanos indica que 41% dos brasileiros discordam da determinação da empresa que, por enquanto, é válida somente nos Estados Unidos. O índice de rejeição no Brasil é o maior entre os países analisados, superando a avaliação negativa na Argentina (28%), México (31%), Colômbia (35%), Chile (30%) e Peru (26%).
Além do fim do fact-checking feito por terceiros, a Meta, a dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, também flexibilizou regras que limitam discurso de ódio nas redes e decidiu reduzir o alcance dos filtros automáticos que derrubam conteúdo, medidas que têm efeito no Brasil. Os anúncios foram feitos em 7 de janeiro.
O estudo foi feito pela Broadminded, que analisa tendências de comunicação e consumo na América Latina, e é parte da Sherlock Communications. Cerca de 3,2 mil pessoas foram ouvidas na pesquisa, que teve os dados coletados durante o mês de janeiro.
O levantamento também perguntou como os brasileiros enxergavam a prática de disseminar fake news. Para 19% dos entrevistados, trata-se de um “direito democrático”. Outros 41% dizem que, como uma empresa privada, a Meta deveria ser livre para agir como preferir.
Responsabilidade das redes
Em comparação com outros mercados latino-americanos, o Brasil lidera em uso diário do Instagram, WhatsApp e Threads. Mesmo com a popularidade, 38% dos usuários da Meta dizem que considerariam deixar as redes da empresa caso o fim do fact-checking chegue ao Brasil. O índice é o menor entre os países pesquisados. Os que negam que saíram das plataformas são 43%.
A pesquisa também revela que, para maioria dos brasileiros, a Meta deveria ter obrigação legal de remover conteúdos, desativar contas e colaborar com as autoridades em casos que representem riscos no mundo real. Para 87% dos entrevistados, essa é uma responsabilidade da empresa, enquanto 8% discordam e 6% não souberam responder.
O irlandês Patrick O’Neill, fundador da Sherlock Communications e responsável pela pesquisa, lembra que a exposição à desinformação não é algo exclusivo do Brasil, mas destaca que o país se diferencia pelo alto consumo de redes sociais e pelo impacto que essas plataformas têm no debate público.
— O Brasil é um dos maiores mercados da Meta e tem um dos níveis mais altos de engajamento com suas plataformas. Ignorar as preocupações dos brasileiros pode ter consequências para a empresa no longo prazo — avalia ele. Para O’Neill, a empresa não pode somente "lavar as mãos" sobre o conteúdo que dissemina. — Os algoritmos dessas plataformas não são neutros, a uma parte significativa dos brasileiros sabe disso.
Hoje, as redes sociais só podem ser responsabilizadas por conteúdos de terceiros em caso de decisão judicial. No Brasil, o Projeto de Lei das Fake News, que previa maior responsabilização das plataformas por conteúdos nocivos e exigia transparência na moderação, segue travado no Congresso. O debate sobre o tema também acontece no Supremo Tribunal Federal (STF).
29% já acreditaram em fake news
A pesquisa mostra que mais da metade dos brasileiros (54%) já foi exposto à desinformação nas plataformas da Meta, enquanto 43% se depararam com discurso de ódio, o que inclui ofensas relacionadas à raça e gênero, o maior percentual entre os países analisados.
Em relação à desinformação, mais de um terço (29%) dos brasileiros diz que chegou a acreditar em fake news antes de descobrir que tratava-se de algo falso e 17% indicam não terem certeza se já interagiram ou não com esse tipo de conteúdo nas plataformas da empresa.
O levantamento foi feito no mesmo mês em que o governo enfrentava a crise do Pix, marcada por uma onda de reação negativa nas redes sociais às mudanças na fiscalização de transações pelo sistema, o que envolveu a disseminação de informações falsas. O estudo, no entanto, não fez perguntas específicas sobre o tema.
Os responsáveis pela pesquisa avaliam que a forma como os brasileiros interagem com as redes tende a ampliar o alcance e a influência das fake news. O’Neill ressalta que uma parte dos usuários brasileiros e latino-americanos entende que espalhar desinformação é um direito:
— Uma parte das pessoas acredita que tudo se resume à liberdade de expressão. Para elas, mentir, desinformar e espalhar informações falsas faz parte desse direito. Mas a maioria dos brasileiros não concorda com isso — avalia ele.
Quando desconfiam de uma postagem, a maioria dos usuários brasileiros recorre à busca na internet (57%) ou à imprensa (53%) para consultar a veracidade. Além disso, 33% dos entrevistados buscam indícios em outras redes sociais, enquanto 9% já utilizam plataformas de inteligência artificial, como o ChatGPT, para checar informações.
Entre os que fizeram denúncias nas plataformas da Meta, a maior parte dos brasileiros indica que não obteve resposta satisfatória ou que foi ignorado (31%) e 22% dos entrevistados dizem que ficaram satisfeitos após a denúncia.
FONTE: NOTÍCIAS AO MINUTO.