O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou neste domingo (23) que está disposto a deixar o cargo em troca de seu país ingressar na Otan e de que a Rússia seja dissuadida de uma nova agressão, na véspera do terceiro aniversário da invasão promovida por Moscou.
O Kremlin, visivelmente satisfeito com a guinada de 180 graus dos Estados Unidos em relação à Ucrânia, considerou por sua vez "promissor" o diálogo entre o presidente russo Vladimir Putin e seu par americano, Donald Trump.
"O diálogo ocorre entre dois presidentes verdadeiramente notáveis. É promissor. É importante que nada venha perturbar a implementação de sua vontade política", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Moscou anunciou ainda que no final da próxima semana haverá um novo encontro entre diplomatas russos e americanos, após o realizado no dia 18 de fevereiro na Arábia Saudita entre os chefes da diplomacia Serguei Lavrov e Marco Rubio.
"Se realmente precisam que eu deixe meu cargo, estou disposto", garantiu Zelensky em uma coletiva de imprensa em Kiev. "Posso trocar [a presidência] pela [adesão à] Otan", a Organização do Tratado do Atlântico Norte, acrescentou.
Estas declarações são uma resposta aos comentários de Trump, que o chamou de "ditador" por permanecer no poder sem ter realizado eleições. A Ucrânia não pôde organizar eleições devido à lei marcial em vigor por conta da invasão russa.
Zelensky afirmou que não se sentiu "ofendido" pelas palavras de Trump, pois é um "presidente legitimamente eleito".
- "Compreensão mútua"-
Os Estados Unidos consideraram pouco realista uma adesão ucraniana à Aliança Atlântica, já que nesse caso a Rússia não aceitaria colocar fim às hostilidades.
O presidente americano iniciou uma aproximação com Putin, abrindo conversas com Moscou sem a participação ucraniana ou europeia e responsabilizou a Ucrânia pela eclosão do conflito iniciado pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022.
Trump afirmou ainda no sábado que quer recuperar o dinheiro emprestado a Kiev nos últimos três anos, obtendo acesso aos recursos minerais da Ucrânia. Sua equipe também trabalha em um próximo encontro com Putin.
Mas Zelensky acredita que deveria se reunir com seu homólogo americano antes de este se encontrar com o líder russo. "Acho que esse encontro deveria ser justo, ou seja, [ocorrer] antes de Trump se reunir com Putin", disse.
Também pediu uma "compreensão mútua" e que os Estados Unidos lhe forneçam garantias de segurança para proteger a Ucrânia de qualquer futura agressão russa após um possível acordo de cessar-fogo. "Garantias de segurança por parte de Trump são muito necessárias", reiterou.
Quanto ao acordo sobre a exploração de minerais estratégicos ucranianos reivindicado por Trump, o mandatário ucraniano garantiu que as conversas estão avançando.