Publicada em 27/10/2015 às 11h10.
Campeão mundial cai três vezes e sai de cadeira de rodas
Carregado por guia até chegada, é ovacionado por público e encaminhado para hospital no Catar

(GLOBO ESPORTE)

 

Há nove anos, Odair Santos não sabia o que era perder em um Mundial. Atual campeão e recordista mundial nos 800m T11 (cego total), além de medalhista de ouro nos 1.500m e 5.000m em Lyon 2013, o brasileiro sofreu uma hipertermia em um dia de forte calor em Doha, no Catar. Os termômetros marcavam 35º graus. O atleta liderava a prova com folga quando entrou em colapso na final dos 5.000m do Mundial Paralímpico de Atletismo. Passando mal, ele sofreu três quedas na pista e precisou ser carregado pelo guia, Carlos Antonio dos Santos, até a linha de chegada. O público que compareceu à arquibancada do Qatar Sports Club aplaudiu o esforço do brasileiro, que, sem condições de andar e falar, foi direto para o departamento médico, sem dar entrevistas. Ele foi encaminhado para um hospital em uma cadeira de rodas e passa por exames.


 

Com lágrimas nos olhos e a voz trêmula, o guia deu um depoimento emocionado sobre o paulista de Limeira, que defende ainda os títulos nas provas de 800m e 1.500m.

 

- A minha tristeza é a mesma do atleta. Estávamos treinando muito para chegar aqui e acontece um imprevisto. Eu acredito que ele não deve ter se alimentado direito agora à tarde, teve uma fraqueza durante a prova e, infelizmente, não conseguiu completá-la como a gente queria. A minha tristeza (chorando) é a mesma que a dele. A gente se preparou muito para (fez uma pausa)... Desculpa... Para chegar até aqui. A gente trabalhou, trabalhou, trabalhou, e estamos saindo sem a medalha. Mas a felicidade foi ter completado a prova. A raça do brasileiro é essa daí. Às vezes, não dá certo, mas o importante é que a gente conseguiu completar. Amanhã, ele vai conseguir estar em pé - contou Carlos Antonio.

 

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Segundo o guia, Odair não se queixou de dores. As quedas não foram provocadas por lesões, e sim pela fraqueza provocada pela hipertermia, caracterizada pelo aumento da temperatura do corpo, superior a 40º C. Alguns sintomas provocados são câimbras, perda de coordenação motora, náuseas, vômitos, suor intenso, aumento da frequência cardíaca e confusão mental.

 

- Ele não se queixou de nada, estava tudo bem. São coisas que acontecem. A gente forçou um pouco no começo da prova. A estratégia que adotamos era passar um pouco mais rápido no início e manter a vantagem. Infelizmente, ele não resistiu ao ritmo neste calor. Mas estamos preparados e vamos usar outra estratégia para trazer essa medalha que não veio. Agora é levantar a cabeça e buscar uma boa estratégia neste clima quente para não fraquejar.  

 

 

A duas voltas para o fim do percurso de 5.000m, Odair disse a Carlos Antonio que estava extremamente cansado. O guia o incentivou para seguir adiante, já que sabia que o corredor não havia se lesionado. 

 

- Bate a sensação de que o trabalho foi bem feito, mas que não soubemos aproveitar o trabalho feito. Eu só fiz a minha parte de tentar segurá-lo e cruzar a linha de chegada. Ele merecia passar por essa linha, assim como todos os que passam por dificuldades. Se fosse uma lesão, eu não iria falar para ele completar. Mas eu sabia que era uma questão de sentir a prova, de sentir o ritmo. Ele falou que estava cansado e eu só fiz a minha parte de levá-lo até a chegada. 

 

Odair e o seu guia estão inscritos para as eliminatórias dos 1.500m nesta quarta-feira, e não descartaram a busca por mais um pódio. Com nove medalhas em Mundiais, sendo sete de ouro, uma de prata e outra de bronze, Odair ainda ostenta em sua coleção sete pódios nos Jogos Paralímpicos (três pratas e quatro bronzes). 

 

A repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)

 

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