O silêncio precede o esporro. O fato de estarmos há duas semanas sem nenhuma nova fase da Operação Lava Jato não significa que o caso arrefeceu. Em sigilo, as delações dos 78 executivos da Odebrecht tensionam ainda mais o ambiente no País. Nos próximos dias, será conhecida a nova relação de políticos e autoridades com foro privilegiado a se tornarem alvos em potencial de inquéritos da ProcuradoriaGeral da República, no âmbito da Lava Jato, que completa 3 anos sexta. Hoje, os "filhotes" da forçatarefa já se estendem por seis Estados, incluindo Pernambuco. A expectativa é de que os desdobramentos se enraizem nas campanhas estaduais. Os procuradores preveem que, com o material da empresa baiana, dobre o número de operações em 2017.
No Estado, os "filhotes" da Lava Jato são as Operações Turbulência, Vórtex e Vidas Secas. Elas colocaram no foco de denúncias nomes do PSB, como o senador Fernando Bezerra Coelho e o exgovernador Eduardo Campos, que faleceu em agosto de 2014. A Fair Play, responsável por averiguar suposto superfaturamento na construção da Arena de Pernambuco, não está diretamente vinculada à Lava Jato, mas o juiz Sérgio Moro compartilhou provas com a PF e forneceu dados para subsidiar a investigação. Até agora, segundo a Procuradoria da República do Paraná, 58 acordos de colaboração foram firmados, sem contar com a Odebrecht. Investigadores esperam também uma espécie de efeito colateral da delação em outras empreiteiras. Advogados já foram avisados de que ao menos a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez terão seus acordos revistos para inclusão de novos fatos.

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De 17 de março de 2014 até hoje, empresários pernambucanos estão na mira da investigação. Alguns nomes ganharam notoriedade, como os envolvidos na Turbulência, mas outros passaram ao largo. É o caso Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará. Ele transportava dinheiro para o doleiro Alberto Youssef e foi um dos primeiros investigados. Morador de Aldeia, ele fez a delação em 2015.
Na última sexta, o nome de Apolo Santana Vieira, um dos supostos donos do jato que caiu com Eduardo, voltou a ser citado na Operação Blackout, a 38ª fase da Lava Jato. Dados da Receita Federal, divulgados pelo jornalista Fausto Macedo, do Estadão, revelam que não há veículos ou imóveis no nome dele, apesar da vida luxuosa e de um apartamento no Paiva avaliado em R$ 3 milhões. Apolo teve a prisão preventiva decretada por Moro, mas a ordem foi revogada antes da deflagração da operação, porque ele negocia delação. Em nota, o empresário afirmou que seu patrimônio encontrase declarado na Receita. Ele negou ter bens em nome de terceiros, como consta no relatório.
EFEITO EM 2018
Se o fantasma das delações assombra no âmbito nacional, no local não é diferente. Questionado se a lista de Janot poder ter desdobramento nas eleições 2018, o doutor em Ciência Política, Juliano Domingues, professor da Universidade Católica de Pernambuco, avalia que o grau de interferência dependerá dos desdobramentos da delação dos executivos da Odebrecht e da visibilidade ou invisibilidade midiática do caso.
Domingues destaca a importância da investigação para explicitar o jogo políticoeleitoral no Brasil, "sobretudo como ocorrem os processos de cooptação e predação do Estado por grupos empresariais e atores políticos autointeressados". O cientista político critica a narrativa construída pelas instituições responsáveis pela investigação, que tendem a criminalizar a política. "Disseminar a ideia de que políticos são, necessariamente, corruptos e criminosos é algo que pode provocar sérios danos à cambaleante democracia brasileira."
À frente da defesa de dois empresários citados na Turbulência, o advogado criminalista Ademar Rigueira não revela os nomes dos políticos para quem atua, mas também está à frente de dois inquéritos judiciais junto ao STF ligados a Lava Jato e em um processo em Curitiba vinculado a executivos da Mendes Júnior. Ele é crítico às prisões preventivas despachadas por Moro. "Acho que a maioria não são fatos contemporâneos, mas algo que aconteceu há 2, 3 anos. Ou seja, muitas vezes, as pessoas não estão mais na empresa. A função da prisão preventiva não está sendo analisada. Elas são mais para constranger. As prisões estão sendo decretadas para forçar o acusado a fazer a delação."
O presidente da OAB-PE, Ronnie Duarte, destaca o aspecto benéfico da Lava Jato, mas aponta excessos. "Alguns acusados e condenados em primeira instância foram absolvidos pelo tribunal quando do julgamento de recursos, após exposição pública e vários meses de reclusão. O argumento de que houve mais acertos do que erros não é válido. Em um estado que se pretende de direito os direitos individuais devem ser preservados", grifou.
Jc