Publicada em 28/03/2020 às 15h00.
Como pandemias e guerras mudaram o rumo do esporte
Gripe espanhola e conflitos bélicos provocaram sérios danos, assim como o novo coronavírus, que paralisou competições de todos os níveis.

                                                              Imagem: Behrouz MEHRI / AFP


Daqui alguns anos, o que hoje é um triste presente se tornará no futuro um marco histórico. Analisado por quem viveu e, com o passar do tempo, pelos que nascerão "pós-fato". O surto do novo coronavírus, infelizmente, ainda não terminou. Entretanto, é possível ter parte da dimensão do seu estrago na sociedade. Em especial, nos eventos esportivos. Dos menores aos maiores. Locais, nacionais e internacionais. Um cenário parecido com o que foi visto em outros períodos. Após uma pandemia no início do século passado e duas Guerras Mundiais, o esporte volta a ter sua rotina afetada. No combate à doença, a vitória é questão de sobrevivência.

A década de 1910 foi acometida por dois momentos delicados da história: a Primeira Guerra Mundial e a Gripe Espanhola. Durante o conflito de 1914 a 1918, campeonatos de futebol da Inglaterra, França, Itália e Alemanha foram suspensos. Para se ter ideia, o antigo estádio do Tottenham Hotspurs, o White Hart Lane, serviu como depósito de munição. Centenas de jogadores amadores e profissionais tiveram de servir seus respectivos países no combate. Os Jogos Olímpicos de 1916, em Berlim, foram cancelados.

Há, também algumas curiosidades no período. A maior delas, talvez, foi a "Trégua de Natal", no dia 24 de dezembro de 1914, quando ingleses e alemães, em lados opostos na Guerra, interromperam a batalha e trocaram as armas por uma bola. "Isto se transformou num jogo de futebol, com os gols feitos por chapéus. O terreno congelado não foi problema. Organizamos cada lado em times diferentes e nos alinhamos em filas, com a bola no centro. O resultado: vitória por 3 a 2 dos saxões", diz o registro do jornal inglês “The Times”.

Indiretamente, o conflito bélico também impulsionou o futebol feminino - as mulheres britânicas que ficaram no país, trabalhando nas fábricas, passaram a praticar o esporte e, em 1917, criaram a primeira liga feminina. No Brasil, a Primeira Guerra Mundial não causou cancelamentos. Porém, em 1918, a nação sofreu com a pandemia da Gripe Espanhola, que vitimou mais de 50 milhões de pessoas no mundo e mais de 300 mil no País, incluíndo o presidente da República da época, Rodrigues Alves. Não há consenso sobre a chegada do vírus ao território nacional, mas especula-se que sua disseminação surgiu da vinda do navio britânico Demerara.

"A doença surgiu logo após a Primeira Guerra e chegou forte após os caminhos de idas e vindas das tropas. No Recife, a transmissão se reforçou nas viagens de trem, principalmente na região litorânea. As elites de Pernambuco tiveram de fugir para Gravatá e cidades do interior. Muitos cadáveres ficavam no chão das ruas", explicou o historiador Thales Bentzen. No estado, estima-se que morreram mais de duas mil pessoas.

Os campeonatos europeus já estavam parados. No Brasil, os torneios estaduais e de seleções foram afetados. O Campeonato Sul-Americano, disputado no Rio de Janeiro, foi adiado para maio do ano seguinte - a Seleção Brasileira foi a campeã. O Carioca de 1918 ficou paralisado de outubro a dezembro. O mesmo aconteceu com o Paulistão. O Pernambucano parou um pouco antes, em setembro, retomando os confrontos somente no final do ano e finalizado em fevereiro de 2019, com o título do América.

Pernambuco só voltou a ter seu estadual afetado em 1930 e 1943. No primeiro, houve a chamada Revolução de 1930, que depôs o presidente da república, Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito, Júlio Prestes, e pôs fim à República Velha. O extinto Torre foi o campeão. Na outra edição citada, o título ficou com o Sport após o Náutico pedir desfiliação devido a divergências com a federação.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 foram adiados no início da semana. Será a primeira vez que o torneio é suspenso por conta de uma pandemia. Os demais casos aconteceram nas guerras. Como já citado, a Primeira suspendeu o evento de 1916. A Segunda, ocorrida entre 1939 e 1945, paralisou as edições de 1940 (Tóquio) e 1944 (Londres). As duas cidades foram severamente bombardeadas no conflito que vitimou mais de 80 milhões de pessoas. Os japoneses ganharam uma nova chance de sediar a Olimpíada em 1964, enquanto ingleses receberam em 1948 e 2012. Nos Jogos pós-Guerra, 59 países participaram. Alemanha e Japão foram proibidos de disputar o evento.

Assim como nas guerras e na gripe espanhola, o coronavírus trará uma consequência que vai além das disputas esportivas. "A humanidade não saiu de grandes momentos sem mudanças. A geração de hoje não será a mesma daqui para frente, assim como a antiga não foi após essas fatos", finalizou Bentzen.


FONTE: FOLHA PE

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