Reprodução do G1.
Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz que um
virologista renomado e sua equipe examinaram 1,5 mil testes que deram positivo
para a Covid-19 e que em nenhum deles foram encontrados quaisquer vestígios do
vírus Sars-CoV-2, apenas dos vírus Influenza A e B. É #FAKE.
Um
dos nomes que aparecem nas postagem é Derek Knauss. Mas ele não aparece nos
resultados de busca em bases de dados de publicações científicas como ResearchGate ou Google Scholar. A mesma
busca foi feita por agências de verificação internacionais, como Maldita.es e Open, que também
desmentiram o boato.
Uma versão do mesmo texto é atribuída a
outros autores, entre eles Joe Rizoli, igualmente inexistente, de acordo com
apuração da AFP. Em nota publicada em seu
blog, cujo endereço é compartilhado em publicações com a mensagem falsa,
Rizoli, que não é cientista, diz que não é autor da publicação e apenas a
retransmite.
"Essa mensagem é uma mensagem falsa por vários motivos", diz o virologista Rômulo Neris, doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "O primeiro deles é que, de fato, mesmo uma busca mais completa não aponta que nenhum desses nomes exista. Isso é um perfil muito comum nessas fake news de saúde, onde você costuma colocar, primeiramente, o nome de um especialista para dar credibilidade à mensagem. Mas não se preocuparam desta vez em escolher alguém que exista, só um nome inventado comum. E isso, possivelmente, já corrobora que essa mensagem é falsa", diz.
Neris diz que, ao olhar mais adiante, na própria estrutura da mensagem, é possível perceber outros indícios de que ela seja mentirosa. A primeira questão diz respeito ao fato de o médico e a equipe, segundo o texto falso, terem analisado 1.500 amostras a partir dos postulados de Koch e de microscopia eletrônica. Os postulados de Koch são um conjunto de regras, um conjunto de critérios que definem como determinar que um determinado microrganismo causa uma doença. Sua aplicação completa no caso da Covid-19 ia ser fortemente questionada por razões éticas, afirma.
"A gente não pode usar o postulado
de Koch na íntegra para detectar o coronavírus, como um agente patogênico,
porque a gente não pode pegar o vírus e reinfectar pessoas para confirmar que
ele causa a doença. Isso viola qualquer protocolo de ética, qualquer comitê
científico que aprova experimento jamais aprovaria experimentos dessa natureza
em lugar nenhum do mundo", diz Neris.
A segunda questão, segundo ele, é que se fosse eticamente aceito, esse seria um processo demorado. "Isolar o vírus, fazer com que ele se multiplique na célula para infectar novamente uma outra pessoa, um outro indivíduo, isolar ele de novo, é o processo que leva semanas, às vezes, meses. É extremamente improvável que um grupo de pesquisa consiga fazer esse procedimento todo com 1.500 amostras. Para fazer isso com 1.500 amostras, a gente usa métodos de detecção que são muito mais simples e mais rápidos, como padrão ouro, que é o PCR. Com o PCR a gente consegue analisar 1.500 amostras em um período curto de tempo, até em um dia, mas através de isolamento e amplificação, é impossível. Você precisaria de uma equipe gigante, vários institutos mobilizados ao mesmo tempo e pela estrutura que você precisaria para poder fazer esse tipo de experimento, a gente, com certeza, teria mais informações se isso fosse verdadeiro."
Neris afirma ainda que o método da microscopia eletrônica é
demorado. "Isso significa que, para analisar 1.500 amostras, você levaria
muitos dias, porque a detecção não é como a do PCR em que a gente usa uma
máquina para fazer a detecção ao mesmo tempo de várias amostras. Você precisa
levar cada uma das amostras de interesse no microscópio, colocar no
microscópio, olhar, percorrer a amostra, ver se você vê a partícula viral ali.
Geralmente a microscopia eletrônica é utilizada para determinar, por exemplo,
coisas como a organização das estruturas que produzem vírus dentro das células
ou pra visualizar a própria estrutura do vírus, mas não pra diagnóstico. Não
faz sentido nenhum. Essas técnicas nem sequer são prescritas para diagnóstico
rotineiro."
Além das citações falsas, a mensagem
que circula na web confunde ao mencionar Covid como se fosse o vírus
SARS-CoV-2, que a provoca. Covid é a doença causada por uma nova cepa de
coronavírus. De acordo com a Organização Mundial de Saúde,
‘CO’ significa corona, ‘VI’ significa vírus e ‘D’ doença. Anteriormente, esta
doença era chamada de ‘2019 novo coronavírus’ ou ‘2019-nCoV’.
Ainda de acordo com a OMS, os vírus são
nomeados com base em sua estrutura genética para facilitar o desenvolvimento de
testes diagnósticos, vacinas e medicamentos. Os virologistas e a comunidade
científica em geral fazem esse trabalho, então os vírus são nomeados pelo
Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV).
FONTE: G1.