Imagem meramente ilustrativa / Reprodução do google.
Grupos e canais políticos no Telegram tiveram crescimento
explosivo no Brasil desde 2020, e o aplicativo deve ser um dos principais
veículos de desinformação na eleição de 2022, alertam especialistas e o TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
Estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) mapeou
os principais grupos e canais de discussão política no aplicativo.
Segundo o levantamento, 92,5% dos usuários que seguem temas políticos estão em
grupos e canais bolsonaristas (com um total de 1,443 milhão de membros), 1% em
grupos e canais de esquerda (principalmente de apoio ao ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e ao presidenciável Ciro Gomes, com 15.956 membros) e 6,5%
em grupos e canais indefinidos (100.199).
O volume mensal de mensagens nos grupos monitorados saiu de
21.805 em janeiro de 2020 para picos de 98.526 em maio de 2020 e 145.340 em
janeiro de 2021 -aumento de 566% no período de um ano.
Embora o WhatsApp continue sendo o serviço de mensagens
criptografadas mais usado no país, o Telegram desperta enorme preocupação porque
não tem escritório no Brasil, não modera conteúdo, nem adota medidas para
evitar viralização de desinformação. O aplicativo é baseado em Dubai, nos
Emirados Árabes, e tem representação legal no Reino Unido.
Além disso, o Telegram é a única das principais plataformas
que não coopera com o TSE para combater campanhas de fake news.
Enquanto os grupos do WhatsApp têm no máximo 256 membros, os
do Telegram têm até 200 mil -e os canais, que funcionam como listas de
transmissão, não têm limite de integrantes. O canal verificado do presidente
Jair Bolsonaro tinha 145 mil membros em janeiro e, agora, tem 705 mil.
"O Telegram facilita a disseminação de mensagens para
grupos enormes e os dados mostram que o aplicativo pode ser bastante explorado
nas campanhas de desinformação na eleição de 2022", diz Fabrício
Benevenuto, professor de ciência da computação da UFMG e coordenador do estudo.
"Além disso, detectamos no estudo que grande parte do
conteúdo circulado no Telegram depois vai para o WhatsApp e redes
sociais", afirma.
Todas as 15 mensagens de texto mais
visualizadas nos grupos políticos do aplicativo eram links que levavam a vídeos
favoráveis ao governo. Uma delas, visualizada por 330.865 pessoas, era um link
que levava para vídeo do canal do vereador Carlos Bolsonaro (RJ) intitulado
"A VERDADE ESTABELECIDA SOBRE A COVID. Será que sai na tv que quer matar seu
país?".
A UFMG criou em junho de 2018 o WhatsApp Monitor, que monitora campanhas
de desinformação em grupos do aplicativo de mensagens, e vai lançar o Telegram
Monitor, com o mesmo objetivo.
O TSE já tentou várias vezes entrar em contato com o Telegram para fazer
parcerias, como as fechadas com Facebook, WhatsApp, YouTube, Google, TikTok e
Instagram na eleição de 2020. Mas a empresa tem como uma de suas bandeiras não
cooperar com nenhum governo e só moderar conteúdo relacionado a terrorismo –por
exemplo, de facções como o Estado Islâmico.
A reportagem tentou várias vezes entrar em contato com a área de
imprensa do Telegram, pelo canal indicado no site da empresa, mas não obteve
resposta.
"Estamos muito preocupados, acreditamos que o Telegram pode ser um
grande elemento de desestabilização na eleição de 2022", diz Thiago
Tavares, presidente da SaferNet, entidade de segurança cibernética.
"O aplicativo é terra sem lei, porque não tem as limitações do WhatsApp e não aplica nenhuma das políticas de integridade –ele pode ser usado para espalhar desinformação que seria penalizada em outras plataformas", afirma.
FONTE: NOTÍCIA AO MINUTO.