Publicada em 18/10/2017 às 08h28.
Orçamento apertado de famílias pressiona estudantes a obter boas notas no Enem
Em alguns casos, aprovação em universidades públicas é a única saída para candidatos, que não conseguiriam arcar com gastos com faculdades particulare

Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

 

Desde 2014, a estudante Weidy Lemos, 21, entrou na batalha para conquistar uma vaga no curso de medicina, um dos mais concorridos entre os ‘feras’. Assim como outros concorrentes, a expectativa para obter uma boa pontuação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ingressar em uma universidade pública aumenta ano após ano. Não é só pela alegria em ser aprovada, mas pela incompatibilidade entre a mensalidade de uma faculdade particular e o orçamento da família.


Filha de uma diarista, Weidy tem um irmão que já cursa uma graduação em uma faculdade particular no Recife, mas precisou pausar os estudos devido a uma irregularidade no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).


“Ele precisou trancar porque, com o problema que apareceu, ele teria que pagar a mensalidade integral para continuar estudando e não temos condições de fazer isso”, conta.


Com o tempo dedicado integralmente aos estudos, a estudante, que cursou o ensino médio em escola pública e atualmente tem aulas no pré-vestibular solidário da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), se sente na obrigação de passar numa instituição que não cobre mensalidades.


“Ainda vou ter os custos com livros, alimentação e transporte na faculdade. Eu não sei se consigo tentar pelo Prouni, mas pelo Fies eu sei que não dá, porque teremos custo”, afirma.


Weidy recebe apoio dos professores do pré-vestibular solidário da UFPE, Audênio Vinícius (esquerda) e Victor Barbosa (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)

Weidy recebe apoio dos professores do pré-vestibular solidário da UFPE, Audênio Vinícius (esquerda) e Victor Barbosa (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)


Além de enxergar uma única alternativa para realizar o sonho de ser médica, Weidy também se sente angustiada por não contribuir financeiramente com a família. “Se eu não conseguir passar este ano, vou ter que trabalhar no ano que vem. Já trabalhei antes e atualmente dou aula de reforço para alunos do 6º ano, mas a dificuldade para arrumar emprego é grande, por só ter o ensino médio”, diz, mirando as vagas temporárias normalmente abertas no fim de ano para tentar aliviar os gastos de casa.


A série de fatores que levam a estudante a se condicionar para a aprovação em uma universidade pública acaba influenciando na hora dos estudos, mas o apoio da família, dos amigos e a fé de que ela irá alcançar o que deseja ajuda a lidar. “Às vezes, fico pensando o que vou fazer da vida se eu não passar. Se eu tentar um curso mais fácil, meu sonho vai ficar para trás, mas sou insistente e não vou desistir fácil. Minha mãe me dá total apoio”, aponta a jovem.


Ansiedade é compensada com incentivo


Para o psicólogo Flávio Leão, que atua numa escola com mais de 400 alunos que já vivenciam a rotina do Enem, a pressão para obter notas suficientes para ingressar em universidades públicas é frequente entre os estudantes. Além do reconhecimento por vencer a alta concorrência, o alívio para o bolso dos pais também pesa na consciência dos alunos.


“Acredito que há um equilíbrio entre os pais que cobram os resultados dos filhos, porque querem ver que o investimento na educação deles deu certo, e os pais que incentivam e apoiam os estudos dos adolescentes. É importante que os ‘feras’ tenham um controle emocional para não deixar essas cobranças afetarem o aprendizado”, afirma.


"Se o êxito não vem de primeira, os pais e os alunos precisam entender que não é por falta de esforço, e sim por uma série de fatores que podem influenciar no resultado, como a concorrência", diz Leão


Respirar fundo, organizar uma rotina de estudos e afastar o pensamento negativo são algumas das opções para diminuir o estresse. O psicólogo orienta, ainda, a prática de esportes e de atividades lúdicas para atenuar a cobrança dos estudantes em si mesmos.


Apoio dos pais minimiza dilema dos gastos

Bianca Xavier, 17, deseja passar em medicina e recebe apoio da mãe, Sandra Xavier, para persistir caso não seja aprovada de primeira (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)

Bianca Xavier, 17, deseja passar em medicina e recebe apoio da mãe, Sandra Xavier, para persistir caso não seja aprovada de primeira (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)


A nutricionista Sandra Xavier também auxilia a filha, Bianca Xavier, 17, a não desistir do sonho de cursar medicina. O único empecilho, no entanto, está no bolso: caso a filha seja aprovada numa universidade particular, a mãe não enxerga a possibilidade de arcar com as despesas mensais do curso, que chega a custar quase R$ 5 mil em algumas universidades pernambucanas.


Mãe de um outro adolescente de 14 anos que, assim como Bianca, é aluno de uma escola particular, Sandra é separada do pai dos filhos e, apesar da pensão, arca com as despesas de casa sozinha. “Ela [Bianca] já se sente pressionada para passar numa universidade pública. Acha que a particular é melhor, mas sabe que a gente não tem condições financeiras”, explica.


Cursando o último ano do ensino médio, Bianca tem pensamento obstinado e não desvia o olhar para as universidades particulares. Em uma prova realizada no meio do ano, a vaga em medicina ficou a oito candidatos de distância. O desempenho parece bom para uma novata, mas a jovem não se deixa levar pelo resultado. “Sei que não vou poder ficar se eu passar, então tento não me deixar abater por isso e focar nas universidades públicas”, comenta.


“Sei que não é fácil, mas já conversamos sobre isso. Tento não pressionar muito, porque ela ainda é jovem, estudiosa e vale a pena insistir no sonho”, afirma a mãe, descartando a pressa e apostando, orgulhosa, que a sobrancelha da filha será raspada mais cedo ou mais tarde para comemorar a aprovação.


G1

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