O presidente interino Michel Temer completa, neste domingo (12), um mês no cargo, em meio a polêmicas que fizeram cair dois ministros. Teve apoio no CongressoNacional, que culminou na aprovação de duas medidas econômicas importantes e paradoxais. Recuou, várias vezes, de projetos e propostas e lidou com índices de impopularidade.
A imponderável Operação Lava Jato fez balançar, semanalmente, as estruturas do governo interino e o tempo tornou- se um inimigo do peemedebista, que precisa se sustentar politicamente e alterar os rumos da economia. Em paralelo a isso, Temer precisa lidar com pressões e barganhas de aliados, que cobram - caro - o preço do apoio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), afastada pelo Parlamento.
Com um perfil diametralmente oposto ao da petista, considerada intransigente, Temer muda de posição sobre assuntos delicados em diversas áreas, nas primeiras críticas. Nestes 30 dias, ele colecionou recuos.
Extinguiu o Ministério da Cultura, transformando-o numa Secretaria vinculada ao Ministério da Educação, mas após protestos de artistas recriou a pasta; advertiu o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), que reclamou e, depois, recuou sobre uma revisão no tamanho e custo do Sistema Único de Saúde; repreendeu o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que criticou o formato de nomeação do procuradorgeral da República.
Além disso, a equipe econômica sugeriu a recriação da CPMF, mas a pressão de aliados e a opinião pública fizeram-no aposentar a ideia. Ele também reconsiderou a criação de 14 mil cargos federais, que estavam embutidos na proposta do reajuste de R$ 58 bilhões para o funcionalismo federal, aprovado no Congresso. Nesse aspecto, o interino mostrou habilidade na articulação política, ao aprovar duas medidas de forte impacto na economia, mesmo que contraditórias.
Aprovação, aliás, que gerou desconforto entre as equipes econômica e política. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, discordou do reajuste, que é incompatível com a situação nacional. Nos bastidores, a equipe política, contudo, defendia a aprovação como forma de atender a favores de aliados, que têm pressionado o governo por cargos e liberação de emendas parlamentares.
Ao montar a equipe ministerial - na qual 15 dos 25 ministros haviam sido citados em delações referentes à Operação Lava Jato ou Zelotes, além de investigações menores -, Temer assumiu o ônus. Nas primeiras semanas, os ministros do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), e da Transparência, Fabiano Silveira, foram pegos em gravações do ex-senador Sergio Machado (PMDB), criticando ou articulando obstrução à Lava Jato.
Outros auxiliares - Henrique Alves (Turismo), Fábio Osório (AGU) e Fátima Pelaes (Mulheres) - balançaram, mas foram mantidos. A Lava Jato ainda é uma ameaça iminente ao Governo e ministros já demonstraram o constrangimento que a Operação provoca . “Isso está prejudicando a imagem da gestão”, avalia o cientista político Elton Gomes, da Faculdade Damas. “O governo corre o risco de se tornar inviável, independente do processo de Dilma”, diz.
No Itamaraty, José Serra (PSDB) já imprimiu uma agenda diversa. Reclamou da tendência ideológica, preteriu as alianças vigentes em prol dos Estados Unidos e União Europeia e ressaltou o comércio exterior como prioritário. O politólogo avalia que a política econômica e a equipe técnica são fortes, mas a legitimidade e a credibilidade estão em baixa. O governo Temer - observa Elton - anda numa velocidade incomum, o que pode levar ao assentamento político ou à rápida degeneração.