Foto: Divulgação.
A comissão de Ética Pública da Presidência da
República decidiu, no fim do ano passado, anular uma sanção que havia aplicado
a Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro, pelo caso do
"gabinete paralelo" dos pastores que atuavam no ministério, revelado
pelo Estadão em 2022. A decisão foi tomada na última reunião do colegiado de
2024, em 16 de dezembro, mas, por ser um processo em andamento, foi divulgada
sem o nome da autoridade escrutinada.
A
sanção anulada foi uma censura ética. A medida não tem o efeito concreto de uma
multa, por exemplo, mas funciona como uma espécie de mancha no currículo. Um
novo julgamento deverá ser realizado na próxima reunião do colegiado, marcada
para 27 de janeiro.
O caso
que ficou conhecido como "gabinete paralelo" consistia na influência
exercida na pasta por dois pastores, Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura,
sem vínculo com o ministério. As reportagens da época mostraram que eles
facilitavam o acesso de pessoas ao ministro. Uma gravação vazada naquele
período registrava Milton Ribeiro dizendo que daria preferência a atender
"a todos os que são amigos do pastor Gilmar" - e que isso teria sido
um pedido do então presidente, Jair Bolsonaro.
O caso também incluiu, por exemplo, um prefeito acusando um dos pastores de ter pedido pagamentos em ouro para liberar recursos para creches no ministério.
A Comissão de Ética, porém, foca na declaração gravada do então ministro. O relator do processo no colegiado foi Manoel Caetano, que preside a comissão.
No voto em
que recomendou a censura ética, ele afirmou que a declaração "colocou em
dúvida a integridade e a clareza de posições da administração pública, em claro
desvio de caráter ético-jurídico, bem como revelou o descumprimento do
compromisso moral e dos padrões qualitativos estabelecidos para a conduta da
alta administração".
A
defesa de Milton Ribeiro negou irregularidades tanto na época em que o caso foi
divulgado quanto no processo da Comissão de Ética. Argumentou que a
distribuição de recursos para municípios era realizada pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) e que não poderia interferir nos critérios
de repasse. Também disse que o áudio não menciona nenhuma contrapartida para o
envio de recursos e que as notícias que embasavam a representação eram
inverídicas. Milton Ribeiro deixou o Ministério da Educação por causa do
escândalo. Depois, ainda em 2022, ele chegou a ser preso durante a investigação
da Polícia Federal sobre o caso.
A anulação da censura ética teve origem em embargos de declaração, tipo de recurso que pede esclarecimentos ou correções sobre uma decisão. Os representantes de Milton Ribeiro pediram a nulidade do julgamento sob o argumento de não ter havido intimação no fim da investigação e na designação do julgamento, o que teria reduzido o direito de defesa do ex-ministro.
"Nem sequer foram concedidos ao embargante e sua defesa técnica o prazo para apresentar as alegações finais e a oportunidade para sustentar oralmente. Até mesmo porque, o embargante apenas tomou conhecimento da sanção que lhe fora imposta, quando já havia sido emitida e formalizada a conclusão do Colegiado", afirmou a defesa de Milton Ribeiro.
Em seu novo voto, o presidente da Comissão de Ética, Manoel Caetano, disse não ter havido prejuízo à defesa porque o ex-ministro teria tido oportunidade para se manifestar sobre todas as provas produzidas. Apesar disso, concordou com a nulidade do julgamento porque a publicação da pauta da reunião que decidiria pela censura ética não incluiu o nome do advogado de Milton Ribeiro, Daniel Bialski. Também determinou a inclusão de novo julgamento do processo na próxima reunião do colegiado, com intimação dos interessados.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL.