Foto: Divulgação.
Na tarde desta segunda-feira (5), a professora Jaqueline do Nascimento, vítima de um acidente no Acquaventura, na última quinta-feira, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Tamandaré, no Litoral Sul do Estado.
A defesa de
Jaqueline, representada pela advogada Milena Beatriz Tiburtino, também acionou
o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para que um inquérito investigativo
seja instaurado.
Após o relato da professora ter viralizado nas redes sociais no último final de semana, outras vítimas de acidentes no Acquaventura começaram a se pronunciar. Jaqueline aparece nas imagens com diversos ferimentos no rosto.
Outras vítimas
Uma delas é Verônica Maria da Silva, de 45 anos, que se acidentou na escada de um dos brinquedos da área infantil no fim de semana da inauguração. O advogado dela, Kleber Freire, informou que também deve solicitar ao MPPE a suspensão imediata das atividades do equipamento para que sejam realizadas inspeções na estrutura do parque.
“Tendo em vista os inúmeros relatos de acidentes semelhantes divulgados por usuários nas redes sociais desde a abertura do parque, comunicaremos formalmente ao MPPE e às autoridades sanitárias e administrativas do município de Tamandaré requerendo a apuração imediata dos fatos e sugerindo", informou.
O advogado disse que também vai solicitar que seja "realizado um levantamento oficial de todas as ocorrências clínicas e ambulatoriais associadas ao funcionamento do referido estabelecimento desde sua inauguração”.
O Acquaventura foi inaugurado no dia 25 de abril, na praia de Carneiros, em Tamandaré. O acidente envolvendo Verônica aconteceu no domingo 27, dois dias após a inauguração.
De acordo com o advogado, o impacto da queda provocou traumatismo com perda de consciência e vômitos, sendo necessário o encaminhamento ao hospital municipal e, posteriormente, ao Hospital Dom Helder, no Cabo de Santo Agostinho.
No último sábado (3), dois casais se acidentaram em um mesmo brinquedo, em um curto intervalo de tempo. O advogado Fernando Araújo disse que fissurou três costelas e a esposa Luanna Cavalcanti, que é servidora pública, fraturou a clavícula enquanto escorregavam juntos em um toboágua.
“Quando a gente estava voltando de uma das “idas”, como se fosse uma pista de skate, que você sobe e desce, na descida a água nos atingiu e acabou arrancando a boia da gente. No impulso, eu consegui segurar a boia, só que eu tinha caído com o lado direito do meu tronco sobre o tobogã e fiquei sem respirar direito. Minha esposa já levantou dizendo que estava com muita dor no braço, e eu só pedi para ela ter calma”, relatou.
O advogado relata que, mesmo após terem sofrido um acidente, ele e a esposa foram orientados a terminarem a descida do brinquedo.
“Pedimos para ela desligar a água, porque estava muito forte, mas isso não foi feito. Cerca de cinco minutos depois, chegou um funcionário que orientou como a gente deveria descer. Eu tive que manter a calma, apesar de estar com dor no tórax e com dificuldade de respirar, para não transmitir para as nossas crianças que a situação estava fora do controle", relata o advogado.
"Pedi para meu filho e a minha enteada descerem e nos esperarem embaixo do brinquedo. Então, minha esposa veio descendo auxiliada pelo funcionário e eu logo atrás por conta própria, sem boia, sem auxílio de nada”, completou.
Ainda segundo Fernando, poucos minutos depois, Maryana Samara, noiva de Lucas Alves, se acidentou no mesmo trecho.
“O acidente foi por volta das 10h. Fomos descer pelo brinquedo Canoa de Muxima, onde vão duas pessoas na boia. Quando descemos, na primeira ida e volta da boia, ela virou. Como minha noiva estava na parte da frente, bateu com a clavícula e o ombro no brinquedo, e veio a fraturar”, contou Lucas.
“Pareciam despreparados”
Segundo ele, o parque contava com dois socorristas, mas que “pareciam despreparados”. “Na hora de entrar, eles passam as instruções de segurança. A gente seguiu à risca cada orientação, e o que eu acho é que a correnteza estava realmente muito forte”, ponderou a vítima.
Maryana foi levada inicialmente para o pronto atendimento do próprio parque, em seguida transferida para a UPA de Tamandaré, junto com Luanna, onde foi feito o raio-x e confirmado o diagnóstico de fratura na clavícula. De lá, foi encaminhada ao Hospital Dom Helder Câmara, onde passou por cirurgia nesta segunda-feira (5).
“Um representante do parque falou comigo no domingo pela manhã, prometendo um médico na manhã de hoje. Hoje pela manhã questionei e eles disseram que mandariam o médico às 14h de hoje para avaliar o estado dela e talvez uma transferência para um hospital particular. Porém, isso ainda não aconteceu”, afirmou Lucas.
Para Fernando, que deve representar Lucas e Maryana judicialmente contra o parque, a partir da nota divulgada pela empresa, “dá a entender que todos os usuários devem observar estritamente as normas de segurança, como se a culpa fosse da vítima”.
“Se houve sucessivos acidentes no mesmo brinquedo, no mesmo trecho e que implicou na mesma fratura, na mesma lesão, será que todos ali tiveram a capacidade de cometer a mesma imprudência? Fica claro que não, né? E outros acidentes que ocorreram em outros brinquedos, de outras formas, que infelizmente só demonstram que a pressa em inaugurar o empreendimento”, questionou o advogado.
“Senti que eu estava sendo um rato de laboratório, numa experiência de abertura de um empreendimento que não realizou, até a exaustão, todos os testes de segurança. Essa é a impressão que eu tenho”, destacou.
Ainda de acordo com o defensor, ele também foi procurado pelo representante do parque no domingo, após a repercussão do caso.
“Falei para ele que lamentava profundamente essa repercussão, mas que o meu objetivo inicial é que não ocorra novas vítimas. E vou além: a reparação é uma questão secundária. A minha preocupação inicial é o bem-estar e a saúde de todos os envolvidos, coisa que o parque até o presente momento vem negligenciando. Dizer que vai resolver, dizer que vai mandar, não é a mesma coisa que resolver ou fazer", concluiu Fernando.
Por meio de nota, a Polícia
Civil de Pernambuco informou que tomou conhecimento do caso e está tomando
as devidas providências.
Posicionamento do Acquaventura
Procurado pela Folha de Pernambuco, o Acquaventura informou que "todas as atrações do parque são devidamente certificadas e passaram por centenas de testes técnicos, inclusive pela própria equipe, obedecendo aos mais rígidos controles de qualidade internacionais".
"Ressaltamos ser indispensável que os visitantes observem as orientações de segurança, que já garantiram experiências maravilhosas a mais de 6000 visitantes desde a abertura do parque. Estamos prestando todo o suporte necessário ao ocorrido e realizando investigações para entender as suas causas, evitando julgamentos prematuros", informou.
FONTE: FOLHA PE.