Sem endereço ou qualquer expectativa de futuro, moradores de rua ainda peregrinam pelas ruas, praças e avenidas do Recife. De acordo com números oficiais, cerca de 700, mas o MPPE acredita superar a marca de dois mil em situação de vulnerabilidade.
Para além da fome e da falta de vestimentas, também carecem de condições de higiene, o que proporcionaria um pouco mais de dignidade. Para tentar mudar essa realidade, um grupo de 20 amigos se uniu para criar uma forma de oferecer banhos gratuitos. É o Recife do Bem. Copiando modelos já existentes, a ideia é construir uma cabine móvel.
A medida capta doações por meio de financiamento coletivo na internet, contando também com a força das redes sociais. Sem ajuda do poder público, R$ 20 mil precisam ser arrecadados em um prazo de 60 dias. “Ofereceríamos um chuveiro quente, a chance de escovar os dentes e fazer o asseio básico. Para eles é uma forma de sentir-se mais humano”, explicou o engenheiro Milvernes Neto, 34, à frente da iniciativa.
O BWC Solidário será uma espécie de trailer, construído com chapas de aço, podendo ser acoplado a um veículo do estilo picape. O espaço tem boxes feminino e masculino. Na carroceria, uma caixa d’água de mil litros abastece o sistema. A estimativa é de 25 banhos por dia, com frequência de três vezes por semana.
A estrutura contará com pressurizador, aquecedor de gás e uma bomba. “Além do custo de operação, teremos que dispor de insumos como toalhas, xampu e sabonetes, cabendo mais apoio”, acrescentou Neto. O grupo tem contado com a ajuda da iniciativa privada, mas carece do apoio de toda a sociedade.
José Carlos da Silva, 23 anos, morador de rua há 4 anos, trabalha limpando vidros de carros e, quando consegue largar mais cedo, toma banho no Mercado de São José, aberto de segunda a sábado, das 7h às 18h. “Às vezes não tem água no banheiro. Em outras, ele está lotado. Quando é tarde da noite, me lavo com o balde, de roupa mesmo. Mas aí acabo gripando.”
Apesar da alta demanda, existem apenas dois Centros Pop, instalados no Torreão e na Boa Vista, que oferecem banhos. O atendimento é apenas até as 17h. Para quem não consegue, restam as praças, fontes e até bueiros em busca de água.
Moradora de rua há um mês, Rebeca Priscilla, 24, afirmou que a situação é difícil, principalmente, no momento de ir ao banheiro. “Quando a gente quer fazer necessidade, geralmente faz no mangue. Não é agradável. Tomar banho de cuia na praça também é péssimo”, avaliou. Segundo Rebeca, alguns banheiros públicos foram fechados porque tem muito morador de rua que não se comporta bem.
Folha Pe