A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Isabel, em São Paulo, despertou com um trovão no começo deste ano. Uma voz grave forte e cheia de vibratos clamava por Conceição, a personagem-título daquela que talvez seja a música mais conhecida de Cauby Peixoto, que a entoa há 60 anos. Alguns pacientes acordaram, enfermeiros sorriram e os médicos entraram logo depois, aplaudindo o cantor. Evocada na UTI de um hospital, Conceição era o sinal de que Cauby estava pronto para voltar. Aos 84 anos, ele passava por uma internação para se recuperar dos descontroles de sua diabetes. E, mesmo em condições delicadas, cantou no quarto Conceição e Arrastão, e durante os dias mais tensos. E não só cantou. Em uma tarde de visitas, virou-se para o seu produtor, Thiago Marques, e fez planos: "Quero gravar um disco de bossa nova". E ele vem aí mesmo: A Bossa Moderna de Caubyacaba de receber as primeiras vozes de Cauby. Que não para. A agenda do cantor atropela a de seus produtores. Seus discos se sobrepõem uns aos outros como se o mundo tivesse as horas contadas e seus shows só são suspensos por ordens médicas. Nos últimos dez anos, foram oito CDs e três DVDs lançados. E uma temporada no Bar Brahma, prevista para durar um mês, ficou na casa por espetaculares 12 anos. E ele também ganha agora um documentário, Cauby - Começaria Tudo Outra Vez, de Nelson Hoineff, com estreia marcada para a próxima quinta, dia 28.
O filme traz um tema sobre o qual o cantor falou poucas vezes: sua sexualidade. Cauby diz que logo cedo, quando garoto, descobriu que o amor entre homens era perfeito, como o amor entre um homem e uma mulher. Sorri muito quando lembra da adolescência. "Eu era um garoto quando ia para os morros transar com os veados. Eu também andava com eles. Transar (assim) era uma coisa natural." Sempre cuidadoso com sua intimidade nas entrevistas, ele fala sobre o assunto com leveza. E diz que, com o passar dos anos, começou "a andar direito". "Depois, eu comecei a ter namoradas."
Veja