As obras do Sistema Adutor do Pirangi tem causado consequências ao rio localizado na Zona Rural de Catende, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. A água está sendo contida de forma improvisada por uma pequena represa com sacos de areia, para tentar dar profundidade ao rio e facilitar a captação da água até a Estação de Tratamento de Água (ETA) Petrópolis, em Caruaru.
A profundidade atual chega a 1,50m e a engenharia busca regularizar a vazão do reservatório do Prata em 500 litros por segundo. Para o ambientalista João Domingos, a improvisação pode prejudicar o Rio. "Um dos impactos do represamento é o efeito de marola. Quando você retém a água, forma pequenas cachoeiras, elas vão vibrando na margem do rio e vai proporcionando o desabamento da margem, alterando a configuração natural. As margens estão sendo levadas para dentro do rio. Isso foi feito de forma extremamente improvisada e emergencial. Se tivesse planejamento, isso não seria o recomendado", disse.
Ainda segundo João Domingos, um represamento desse tipo não é capaz de suportar uma vazão maior da água, sendo comprometido em caso de chuva. "Podemos perceber um descuido com o entorno do rio, muito lixo amontoado. Isso é uma medida emergencial que evidencia a precariedade do planejamento". Ainda de acordo com o ambientalista, as margens estão acumulando lixo, o que pode prejudicar a qualidade da água.
Moradores
Cerca de 25 famílias moram no entorno do Rio e reclamam da situação no local. Desde que as obras começaram, a vida deles mudou. Segundo a dona de casa Maria Vanessa, de 25 anos, o volume do rio vem caindo nos últimos meses. "A gente faz tudo com a água, só não bebemos. Mas agora estamos lavando roupa na lama. Não tem muita água, está ficando pior, muito difícil".
Ainda de acordo com a dona de casa, em 2010 as famílias tiveram que sair do entorno do rio por causa de uma enchente. "Eu tinha uma casa e ela alagou, tivemos que sair. Sofremos muito. Ficamos assustados de acontecer de novo, a gente fica com medo".
Nazário Francisco, de 59 anos, morador do local há mais de 50, informou que a Compesa prometeu construir banheiros e canalizar água para os moradores, mas não foi feito. "Antigamente isso aqui era cheio. Nós estamos sendo prejudicados. Disseram que iam botar água para a gente pagar. A gente já não tem serviço e ainda pagar, é difícil. Prometeram e ainda hoje nada. Antes o rio era fundo e agora só tem lama. Quando a gente quer beber tem que pegar água em três quilômetros daqui".
Compesa
A Compesa informou por meio de nota que o barramento das águas do rio é provisório, visto que o nível dele está baixo por causa da falta de chuvas na região. Ainda segundo a estatal, o objetivo não é represar o rio, até porque isso afetaria o seu curso, tanto é que existe uma passagem para a água correr.
"A intenção é elevar a lâmina d´água para captar a vazão outorgada pela CPRH para uma altura suficiente que alcance o canal por onde passa a água que vai para o poço de sucção que alimenta as bombas da Estação Elevatória 1", diz a nota.
Ainda de acordo com a Companhia, é de lá que a água segue para a Estação Elevatória 2, às margens da PE-120, que bombeia para as tubulações do Sistema Prata. Em relação à construção de banheiros e o encanamento das residências, a Compesa informou que se trata de salvaguardas socioambientais que estão previstas no convênio feito pela empresa e o Governo do Estado junto ao Banco Mundial, que foi o financiador da obra. Os projetos já foram concluídos e o processo está em fase de cotação e consolidação de orçamento.
Obras
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), esteve em Caruaru na última quinta-feira (30) para a inauguração do Sistema Adutor do Pirangi. A solenidade foi realizada na Estação de Tratamento de Água (ETA) Petrópolis, em Caruaru.
Segundo a Compesa, a iniciativa busca melhorar o abastecimento de água para mais de 800 mil pessoas, além de ajudar a preservar o Rio da Prata, em Bonito. O sistema é uma parceria entre Governo do Estado, Compesa e Banco Mundial e está orçada em R$ 60 milhões.
A água começou a chegar na ETA Petrópolis no dia 24 de março, quando os técnicos conseguiram concluir a fase de testes da Elevatória 1 do Sistema do Prata. Ela chegou no poço de sucção da Barragem do Prata transportada por uma adutora de 27 quilômetros de extensão, a partir de uma captação no Pirangi. As cidades beneficiadas são: Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe, Toritama, Agrestina, Altinho, Ibirajuba, Cachoeirinha, Cumaru, Passira e Riacho das Almas.
G1