Foto: Guga Matos.
Um ritmo que já nasceu marginalizado e com um nome criado como chacota para diminuir as canções exageradamente românticas, o brega, diferente do que muitos pensam, veio para ficar. Ainda bastante questionada, a música brega tem um dia totalmente dedicada a ela em Pernambuco, criada em homenagem a Reginaldo Rossi, que nasceu em 14 de fevereiro de 1948. Para celebrar o dia, haverá uma sessão solene da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) às 18h desta terça-feira.
A ideia de reservar um dia para declarar o amor ao brega foi do ex-deputado Eduardo Porto, que conta ter atendido a um pedido de amigos músicos dedicados ao ritmo. "Foi em homenagem ao Reginaldo Rossi, conversando com outros cantores decidimos juntos escolher essa data, que foi levada ao plenário da Alepe e aprovada por unanimidade", diz Porto.
Eduardo, que inclusive se considera fã da banda Labaredas - uma das mais tradicionais do Recife, também disse participar de reuniões com alguns músicos. " Dia de segunda-feira eles gostam de se reunir e eu me juntava com eles para escutar as músicas", completa o ex-deputado.
Criado em 2014, o Dia do Brega é celebrado pelos amantes do ritmo todo dia 14 de fevereiro, ironicamente (ou não) também o dia em que é celebrado o amor pelos americanos - o famoso Valentine's Day. É o amor, inclusive, o motivo de quase todas as canções de brega. Quem, no Recife, nunca embalou um amante ao som de "A Raposas e as Uvas" de Reginaldo Rossi, que atire a primeira pedra.
Relembre homenagem ao Rei Reginaldo Rossi feita por funcionários do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação:
De acordo com o pesquisador Thiago Soares, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a questão levantada deve ser outra. "Por que o brega não seria cultura?", questiona. A polêmica tomou corpo quando a Secretaria de Cultura de Pernambuco vetou o brega do Carnaval 2017.
De acordo com a convocatória, só foram aceitas propostas nas categorias de cultura popular, música e dança da tradição carnavalesca, orquestras de frevo e música popular brasileira. Para Soares, a exclusão do brega significa uma tentativa de afastar a periferia do resto da cidade. "É uma música pernambucana, feita aqui e você vê um preconceito no modo como é tratada, é uma nova forma de Apartheid", desabafa o pesquisador.
Até o Mc Cego, cantor de brega-funk, já havia comentado sobre o assunto. "Não achei legal. A gente trabalha muito duro pela nossa música", disse o MC. Na internet, páginas como Brega Bregoso fazem sucesso ao exaltar o ritmo pernambucano em suas postagens.
Mas, nem só de polêmicas vive o brega. Ele também é estudado como manifestação cultural no livro "Cenas Musicais", do pesquisador Thiago Soares. No artigo "As Conveniências do Brega", Thiago divide o brega em três fases.
No final dos anos 1960 e início dos 1970, é quando o ritmo surge."O termo música brega nasce no final dos anos 1960 sendo ligado a cantores de música romântica popular como Odair José, que era mais periférico e pobre que Roberto Carlos, Agnaldo Rayol e Agnaldo Timóteo. Esse tipo de música chega ao Recife como uma versão ultra romântica desses cantores e falam de dor de cotovelo", explica o pesquisador.
Já no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, as bandas de brega tomam conta do cenário musical recifense. "Nessa época surgem bandas como Musa do Calipso, Labaredas e Metade, sendo que muitas mulheres são vocalistas destes grupos", diz Soares. A partir do final dos anos 2000, uma nova safra de produtores de música brega aparece na cidade: é o brega funk. "Os Mc's vem para dialogar com o funk e tentar mostrar a realidade da periferia através das músicas", encerra Thiago.
JC