Publicada em 16/04/2018 às 14h33.
Depois de 20 anos do fechamento das Fábricas Peixe, o que mudou na vida dos pesqueirenses?
Artigo da professora Andréa Galvão analisa a importância da antiga fábrica para a economia e o modo de vida em Pesqueira.

 

(Imagem: Whatsapp da Redação/ Portal Nova Mais)

 


Por Andréa Galvão*

 

Era praticamente impensável que no final do século XIX, mais precisamente em 1897, uma mulher  empreendesse sozinha  algum negócio que lhe garantisse o sustento da família, gerasse lucros e posteriormente possibilitasse acumular uma pequena fortuna. Isto ocorreu com Maria da Conceição Cavalcanti de Brito. Esta senhora fundou um pequeno fabrico de goiabada e massa de tomate nos fundos da casa e em pouco tempo ele cresceu, expandiu-se através da instalação de filiais pelo estado. Trata-se da Indústria Alimentícia Carlos de Brito S.A. Fábrica Peixe, uma das maiores potências industriais do Brasil

 

Até os olhos menos atentos eram capazes de captar que o contexto urbano se configurava à medida em que a fábrica crescia. Moradores deixaram a zona rural com o sonho de mudar de vida e passaram a ocupar as periferias da cidade, construíam suas casas e no interior delas, em vez de praticarem a agricultura de subsistência, cultivavam goiaba e tomate para fornecer à PEIXE. Deste modo, fatalmente a renda dos munícipes estaria atrelada à produção fabril.

 

 

(Imagem: Whatsapp da Redação/ Portal Nova Mais)



O progresso da cidade ocorreu simultaneamente com o apogeu da fábrica, de 1920 a 1950. Isso não só elevava a autoestima da população como fornecia condições para que o poder de compra aumentasse. Poucos apostavam que esse cenário fosse mudar tão cedo, todavia o inesperado surge, depois de meio século de funcionamento, a Fábrica Peixe entra em franca decadência, os dirigentes mudam ao longo do tempo, os investimentos necessários são feitos e a sobrevida dos negócios dura até março de 1998, quando a empresa é vendida ao Grupo Círio do Brasil.

 

Após uma análise minuciosa, eles entendem que é grande a dificuldade para obter a matéria-prima e disputar mercado com os grandes grupos do Centro-Sul, sendo assim decidem encerrar as atividades na cidade de Pesqueira. Parece que foi ontem, ter que olhar para a tristeza estampada no rosto dos pesqueirenses, a incerteza pairava no ar. Quem presenciou o transporte do maquinário para as cidades de São Paulo e Goiás, comparava-o a um cortejo fúnebre de um ente querido. Sepultavam a prosperidade para sempre?

 

Embora houvesse na unidade poucos funcionários e a produção estivesse muito reduzida, a cidade experimentou um caos econômico. O comércio enfraqueceu, houve migração significativa de pessoas para capital, Recife e para o sudeste. Quem ficou, amargou no desemprego crescente e viu a renda despencar. A tábua de salvação só foi lançada para quem era aposentado, servidor público ou possuía cargo comissionado na prefeitura.

 

A estabilização da economia só ocorre alguns anos depois com a instalação de pequenas fábricas, ampliação do comércio e as autoridades locais apostarem todas as fichas no turismo, uma vez que a cidade é vocacionada para tal, pois possui muitas belezas naturais, uma religiosidade admirável e produção cultural incessante.


Pesqueira deixou de ser a Capital do Tomate para virar Terra do Doce (a produção artesanal se manteve) da Renda (crescimento da produção de renda-renascença) e da Graça (investimento no turismo religioso) e ainda luta bravamente para permanecer como a Athenas do Sertão, alcunha dada pelo Cardeal Arcoverde, primeiro bispo da América Latina, devido à fama de ser a cidade dos intelectuais.

 

Passados vinte anos a Fábrica Peixe continua gerando emprego e renda para algumas pessoas. Desde que a Feira Livre saiu das ruas da cidade e foi implantada nestas dependências, são 80.000 metros quadrados de área pertencentes à Massa Falida do Grupo Círio Brasil S/A. Após a assinatura do Decreto pelo governador Paulo Câmara em outubro de 2017, o edifício foi desapropriado, os antigos donos indenizados, os feirantes e pequenas empresas mantidas no local, passando a ser agora  patrimônio da cidade de Pesqueira.


 

 

 

 

*Andréa Galvão é graduada em Letras com habilitação em Espanhol. Professora de Língua Portuguesa, Redação e Espanhol do Colégio Santa Dorotéia e Colégio Ideal, ambos localizados na cidade de Pesqueira. É revisora ortográfica e poetisa, membro da diretoria da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira.

 

 

 

 

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TODOS OS COMENTÁRIOS (4)



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  • CristianoJan 2018
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  • Alcides Marques da SilvaJun 2018
    Parabéns pelo bom artigo! Divulguei na minha página ... https://www.facebook.com/peixeinmemorian/
  • Silene Maria de Oliveira Dez 2019
    Olá. Muito boa a matéria. Mas alguém sabem atualmente onde ela se encontra e como se chama o dono? Ou como se chama agora? Preciso muito encontrar mais informações para questões de aposentadoria de minha mãe. Se tiverem algo, agradeço. Muito obrigada.
  • José Eduardo turolla5 anos atrás
    Sou de Mogi guacu s p ,minha vida começou na fazenda Peixe e sinto uma saudade grande desta marca
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