Molusco tem cores fortes e pode ser encontrado em mares tropicais / Reprodução do G1.
Um molusco conhecido como dragão azul (Glaucus atlanticus) foi flagrado em uma praia de Bertioga, no litoral de São Paulo, e gerou curiosidade após a imagem feita por uma moradora repercutir nas redes sociais. O G1 ouviu especialistas que explicaram o que é o molusco, conhecido por comer caravelas-portuguesas e que faz aparições raras.
As imagens divulgadas nas redes sociais da arquiteta Dalma Mesquita Ferreira mostram o animal encalhado em uma faixa de areia da praia de Riviera de São Lourenço. O animal não é venenoso, mas pode soltar uma toxina que pode queimar a pele de quem tocá-lo.
O professor doutor docente em
Zoologia, especializado em Malacologia do Museu de Zoologia da Universidade de
São Paulo, Luiz Ricardo Simone, disse ao G1 que o animal se trata de
uma lesma que vive em alto mar. "Dragão Azul é uma lesma, o molusco
gastrópode, um caracol sem concha, ele só tem a parte orgânica. Ele pertence a
um grupo que é conhecido até popularmente como nudibrânquio, que são umas
lesmas marinhas que são muito coloridas", relatou.
Alimentação:
Segundo o professor doutor, o molusco se alimenta de águas-vivas e, especialmente, caravelas. "O dragão azul não só se alimenta delas, como ainda usa esses substâncias urticantes e venenosas para proteger ele mesmo contra outros predadores", relata.
A mestranda pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) em Sistemática, Taxonomia Animal e Biodiversidade, Gemany Caetano explicou como funciona a alimentação do molusco. "Ela usa aquelas expansões azuis como uma mãozinha, envolve as presas e começa a comer", explica.
Habitat Natural:
Luiz Ricardo explica que é muito difícil que esses animais fiquem vivos quando chegam na praia, já que ele vive em alto mar. Ele esclarece que esse animal vem para a costa quando é levado por ventania ou por uma corrente marítima, fazendo com que encalhe na faixa de areia. Ele reitera que se trata de um acidente, já que não é o habitat natural dele.
"Ele é adaptado ao alto-mar por características e evolução, não tem os mesmos recursos de rastejar como as lesmas, porque está adaptado às colunas de águas em alto mar, não tem contato com o solo", explica.
Gemany completa informando que as chances dele sobreviver são pequenas. “Ele não apresenta muita mobilidade e também não apresenta natação ativa. Quando encalha, se a maré não alcançá-lo para levá-lo de volta, ele acaba morrendo ali”, afirma. Ainda segundo Gemany, por ser pequeno ele pode ser pisoteado na praia, ou até mesmo ficar camuflado em meio ao lixo.
Aparições:
A mestranda conta que o animal não é raro, mas que sua aparição é, apesar de ele ser encontrado em mares tropicais como o do Brasil, Austrália e de países do continente africano. Mas, ao ser encontrado, é preciso ter cuidado, já que ele pode causar queimaduras.
“Caso as pessoas o encontrem, o ideal é que não toquem no animal, com o objetivo de evitar qualquer acidente. É um animal que merece ser admirado”, diz Gemany.
Luiz reitera que é preciso tomar muito cuidado já que ele se alimenta de animais que tem substâncias que podem causar queimaduras. "Eu não aconselho a pegar com as mãos nuas. Ele pode ter aquela substância urticante, que tem nas caravelas portuguesas e águas vivas e que ele usa para afastar predadores", diz.
Flagra:
A moradora da cidade que flagrou o animal, Dalma Mesquita Ferreira, disse ao G1 que o encontro ocorreu em um dia frio, quando ela estava andando pelo local com uma sacolinha plástica. A intenção de Dalma durante a caminhada era recolher o que encontrasse de lixo. O percurso ocorreu até que a arquiteta percebeu algo azul, de cor intensa, na areia, e decidiu se aproximar.
À primeira vista, chegou a pensar que fosse um pedaço de plástico, mas logo percebeu que se tratava de um ser vivo. “Quando eu cheguei perto e vi que aquilo se mexia, a minha primeira reação foi verificar se a onda estava chegando para levar embora”, explica.
Segundo ela, no dia do encontro o mar estava com ressaca, o que contribuiu para que o molusco fosse localizado no litoral paulista. “Eu nunca tinha visto nem na televisão, só na literatura mesmo. A espécie pode ser conhecida, mas ela estava ali na minha frente. Para resumir, é emocionante se deparar com um serzinho desses na sua frente”, afirma.
FONTE: G1.