O trânsito do Recife é mais violento, proporcionalmente, que o de São Paulo, que tem quase dez milhões de habitantes a mais e uma frota 12 vezes maior. Em 2014, o índice era de 24 mortes por 100 mil pessoas na Capital pernambucana, mais que o de 11 por 100 mil na cidade paulista.
A meta da ONU e que volta à tona ao longo do Maio Amarelo é de 6 por 100 mil até 2020. Só no ano passado, na Região Metropolitana, mais de duas mil pessoas morreram ou tiveram sequelas resultantes desse tipo de ocorrência. Pedestres e ciclistas são as maiores vítimas. Foi o que revelaram dados divulgados ontem pelo Observatório do Recife (ODR), com base em indicadores sociais de mobilidade e saúde.
A busca por mais segurança passa por medidas que avançam a passos lentos no Brasil, como a redução da velocidade e a segregação de outros modais no espaço viário. “A fórmula não é única, mas há ações que trouxeram resultados positivos em outras cidades. Nova York é um exemplo: reduziu a velocidade em várias vias e chegou a níveis de acidentes de 1910, quando havia bem menos veículos. Os índices que temos são parecidos com os de mortes por crimes a mão armada”, diz César Martins, do ODR e da Associação dos Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo). “É preciso tornar a Cidade mais segura para pedestres e ciclistas.”
Dados
Apesar do índice alarmante, o relatório apontou queda nos números ao longo dos anos, o que segue estatísticas da Prefeitura. Desde 2012, houve redução de 30% no número de vítimas fatais no trânsito, reflexo, segundo a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano, da implantação de 76 radares em pontos considerados de risco de acidentes, da ação de 348 orientadores nos principais corredores e da melhoria da sinalização. “Só que uma ressalva que o relatório faz é de que houve uma descentralização do atendimento médico, o que fez com que acidentados que vinham para cá fossem levados para outras unidades. A redução pode refletir isso”, completa Martins.
Presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis no?Estado e especialista em mobilidade, Stenio Cuentro crê que a saída é tornar a fiscalização mais efetiva em “pontos cegos”. “A fiscalização eletrônica ainda é muito concentrada nos grandes corredores. Falta fiscalização nas áreas mais periféricas, ainda que num formato móvel.”
A CTTU ainda destacou que a intensificação da fiscalização eletrônica foi fundamental “na diminuição de 25% dos acidentes com vítima” e elencou esforços, como uma operação para coibir a invasão de rotas cicloviárias, que já autuou 600 veículos desde 2015.
Velocidade reduzida
Desestimula o uso do automóvel, diminui o potencial de causar mortes, em casos de colisões, e dá mais segurança a pedestres e ciclistas, mais confiantes em usar seus espaços. Em cidades como São Paulo e Nova York, a velocidade máxima foi reduzida a 40 km/h. No Recife, há a Zona 30.
Mais faixas exclusivas
Torna os coletivos mais atrativos a quem usa o transporte individual, retirando carros das ruas. Além disso, facilita o cumprimento de horários das viagens, minimizando posturas imprudentes de motoristas. O Recife tem 50,3 quilômetros de corredor para o modal, 29,1 implantados desde 2014.
Folha PE