Publicada em 11/07/2019 às 09h40.
É #FAKE que tossir pode ajudar a sobreviver a um infarto
Especialistas da Sociedade de Cardiologia desmentem mensagem no WhatsApp que propaga 'técnica' que promete fazer a vítima ganhar tempo.

Créditos: Reprodução/WhatsApp


Um texto que promete auxiliar pessoas que estejam sozinhas ao sofrer um infarto está circulando em grupos de WhatsApp. De acordo com a mensagem, tossir “de forma repetida e muito vigorosa” pode acalmar o ritmo cardíaco, atrasando o infarto e fazendo a vítima ganhar tempo até a chegada de socorro. A mensagem chega a afirmar que um cardiologista teria indicado a técnica, sem fornecer, porém, a identificação do especialista. As informações são #FAKE.


De acordo com especialistas, tossir não causará nenhum efeito capaz de retardar ou reverter a parada cardíaca.


"A tosse é ineficaz para gerar um débito cardíaco (volume de sangue que é bombeado pelo coração em um minuto) suficiente para manter a perfusão do cérebro e a circulação normais. Inclusive, há esclarecimento sobre isso no site da Universidade de Harvard", destaca o médico e diretor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Claudio Tinoco.


Para o médico Agnaldo Piscopo, diretor de emergências da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), o melhor a fazer é prestar atenção aos sintomas e buscar ajuda o mais rápido possível.


"Ao suspeitar que alguém ou você mesmo está com sintomas de infarto, ligue para a emergência, coloque-se em um lugar visível, não dirija o próprio carro, torça para que a ajuda chegue o mais rápido possível e para que a pessoa que esteja com você esteja preparada para fazer ressuscitação cardiopulmonar (CPR) caso você tenha uma parada cardíaca. A chegada rápida de um desfibrilador e as compressões torácicas são as únicas medidas que podem aumentar a chance de sobrevida", afirma Piscopo.


Segundo o cardiologista, o sintoma principal de um infarto é a dor no peito, que pode vir em forma de aperto, queimação, irradiando para o braço, acompanhada de suor frio e de uma sensação de desmaio. Essa sensação, normalmente, é atribuída a uma arritmia cardíaca. A mais comum de todas, explica ele, é uma fibrilação ventricular.


"A fibrilação ventricular é a causa principal de morte entre os pacientes com infarto na primeira hora. Cinquenta por cento dos pacientes que têm infarto não chegam vivos ao hospital em decorrência dela. A pessoa em quadro de infarto, quando tiver a sensação de desmaio, terá em média de 7 a 10 segundos de consciência. É muito rápido. Se tossir, deitar ou fizer qualquer outra coisa, esse tempo não vai mudar", explica.


A mensagem foca especificamente na vítima de infarto que se vê sem ninguém para ajudá-lo. O que este paciente pode fazer, então, enquanto o socorro não chega?


"Se uma pessoa está com dor no peito, deve pedir ajuda e não ficar sozinha, ligando logo para o serviço de emergência (192). Se estiver de carro, deve parar o carro imediatamente e se colocar em local seguro. Caso esteja em casa, deve abrir a porta para facilitar o socorro e sempre avisar à pessoa mais próxima que está passando mal. E, se tiver a sensação de desmaio, o que deve fazer é deitar, pelo menos para evitar a queda. Mas tossir ou não tossir não vai fazer diferença", frisa.


De onde veio, então, a ideia da tosse como paliativo?


Para Piscopo, a mensagem é fruto de uma instrução mal interpretada, que foi sendo propagada de maneira deturpada e se tornou, então, uma instrução errada.


"Quando estamos com o paciente em ambiente hospitalar, monitorizado, e a frequência cardíaca cai, a gente pede para ele tossir. Isso produz alguns batimentos cardíacos a mais em caso de bradicardia extrema e pode gerar uma resposta adequada. Por isso, essa autoajuda acaba viralizando na internet. Na maioria das vezes, ela não vai prejudicar o paciente, mas também provavelmente não vai ajudar", explica.


Outra origem possível é uma confusão com a chamada "Manobra de Valsava", cujo método de aplicação mais comum é fechar a boca, apertar o nariz e forçar a saída de ar. Segundo Tinoco, ela ativa o nervo vago, gerando a liberação de substâncias capazes de reduzir o estímulo no coração e interromper um certo tipo de arritmias: as supraventriculares. Mas adverte: ela pode piorar a situação se não for feita com supervisão médica.


"Quando a circulação está comprometida, ou seja, em indivíduos com pressão baixa ou que estão desmaiando por causa dessa arritmia, não se deve submeter o paciente à manobra e sim à reversão elétrica, que é um procedimento realizado em ambiente hospitalar. Não é recomendado que as pessoas façam manobras vagais sem orientação médica porque ela pode causar danos se feita de modo ou em situações inadequados", alerta Tinoco.


Piscopo fez alerta semelhante, e ressaltou que, em vez de retardar sintomas até a chegada de socorro, como promete o texto, a técnica pode aumentar a impotência do paciente.


"A manobra de Valsalva consiste em fazer uma pressão positiva, ou seja: a pessoa prende a respiração assoprando, fazendo, na verdade, uma expiração forçada. Mas também não tem eficácia nesse caso. Pior: pode até piorar o retorno venoso, fazendo a pessoa desmaiar mais rápido. Então nem tossir nem a manobra de Valsalva são caracterizadas como primeiros socorros para um paciente que estiver tendo sensação de desmaio decorrente de um problema cardíaco", conclui.

 

G1

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