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O papa Leão XIV celebra nesta sexta-feira (9) a primeira missa de seu pontificado, que despertou esperança no mundo com seus apelos de paz, alinhados com o discurso do antecessor Francisco.
A cerimônia privada ocorre na Capela Sistina ao lado dos cardeais que o elegeram, segundo a transmissão do Vaticano.
Na sua homilia, o papa Leão XIV lamentou o declínio da fé a favor do dinheiro, do "poder ou prazer". Ele também disse que "a Igreja deve ser um farol que ilumina as noites do mundo" e rejeitou a "redução" de Jesus Cristo a um "super-homem".
"[Este tesouro agora] é confiado também a mim, para que eu seja um fiel administrador a favor de todo o Corpo místico da Igreja, de modo que esta seja sempre mais cidade colocada sobre o monte (cf. Ap 21,10), arca de salvação que navega através das ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo. E isso não tanto pela grandiosidade de suas estruturas, mas pela santidade dos seus membros", disse o papa.
"Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela se preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer", disse o pontífice americano-peruano em sua primeira homilia como papa.
"Hoje há contextos em que a fé cristã é considerada algo absurdo, para pessoas fracas e pouco inteligentes", disse o papa. "Num contexto em que outras certezas são preferidas a ela. A tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder, o prazer".
Leão XIV disse que “não é fácil” pregar a fé cristã nos dias de hoje, citou a “crise da família” e criticou a forma como os fiéis são vistos por parte da sociedade.
"Esses são ambientes em que não é fácil proclamar o Evangelho. Aqueles que creem são ridicularizados, combatidos e desprezados, ou no máximo tolerados e lastimados", afirmou.
Leão XIV falou em inglês, italiano e latim durante sua primeira missa. Antes da homilia, ele indicou que precisará da colaboração aos cardeais que o elegeram.
"Me chamaram para esta missão e convido a todos para caminharem comigo", disse.
Americano-peruano
O segundo pontífice das Américas, nascido nos Estados Unidos e que tem cidadania peruana, foi eleito na quinta-feira (8) após dois dias de conclave.
Sua eleição como 267º papa da Igreja e líder espiritual de 1,4 bilhão de católicos no mundo foi uma surpresa para muitos fiéis.
"Os cardeais fizeram uma escolha muito boa", declarou à AFP a austríaca Barbara Boterberch em Jerusalém, destacando que a história de Leão XIV o transforma em um papa "imigrante".
Cardeal Prevost
Robert Francis Prevost nasceu em Chicago em 1955, em uma família com origens em vários países como Espanha e França, e em 2015 também obteve a nacionalidade do Peru, nação em que atuou como missionário e bispo em Chiclayo.
A defesa dos migrantes foi uma constante durante o pontificado de seu antecessor argentino. Há alguns meses, quando ainda era apenas o cardeal Prevost, o novo papa criticou a política migratória dos Estados Unidos de Donald Trump.
Mas, segundo a imprensa italiana, foi o cardeal Timothy Dolan, "o homem do presidente Donald Trump no Vaticano", quem negociou seus apoios no conclave, como já fizera em 2013 com a eleição de Francisco.
Desta vez, os cardeais dos Estados Unidos estabeleceram um bloco e Prevost recebeu também o apoio dos representantes da África e da Ásia, superando o nome que figurava como grande favorito, o italiano Pietro Parolin, segundo a imprensa.
"Apelo à paz"
A eleição aconteceu no maior e mais internacional conclave da História da Igreja, que reuniu 133 cardeais eleitores procedentes de todos os continentes (quase 70 países) na Capela Sistina.
Diante dos cardeais reunidos novamente sob os afrescos de Michelangelo, o agora Leão XIV celebra sua primeira missa como pontífice, na qual pode apresentar novas perspectivas sobre como será seu pontificado.
Em seu primeiro discurso como papa na quinta-feira, ele já fez um "apelo à paz".
"Ajudai-nos também vós, e depois uns aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos a todos para sermos um só povo, sempre em paz", disse.
A eleição de Leão XIV e suas palavras geraram uma onda de felicitações e elogios de líderes internacionais, dos Estados Unidos à Colômbia, passando pelo México, Ucrânia, Rússia ou Espanha.
"Estou ansioso para conhecer o papa Leão XIV. Será um grande momento!", disse o presidente americano Donald Trump, que considerou uma "grande honra" contar com o primeiro papa dos Estados Unidos.
Os próximos passos do novo pontífice o levarão a pronunciar a bênção Regina Coeli no domingo da sacada da basílica de São Pedro, antes de receber a imprensa em uma audiência na segunda-feira.
Outro evento crucial de sua chegada ao trono de São Pedro será sua investidura, com uma missa celebrada diante de líderes políticos e religiosos de todo o mundo em uma data que ainda será definida.
"Em boas mãos"
Leão XIV assume uma Igreja que enfrenta muitos desafios, como a pedofilia entre os clérigos, a crise vocacional e o papel das mulheres. Além dos problemas internos, somam-se os vários conflitos no mundo, o avanço dos governos populistas e a crise climática que se agrava.
Os cardeais optaram pela continuidade com a eleição, segundo analistas. Contudo, eles esperam que adote uma abordagem mais formal que seu antecessor, que sacudiu a Santa Sé com seu exercício pessoal e até mesmo frágil do poder.
O primeiro papa chamado Leão desde 1903 chega ao trono de São Pedro com uma inclinação pastoral, perspectiva global e capacidade para governar a cúria vaticana, além de uma reputação de moderado e construtor de pontes.
"Estamos em boas mãos", disse Michael Angelo Dacalos, um padre das Filipinas de 35 anos, para quem a escolha do nome é um bom sinal porque Leão XIII foi "muito, muito ativo quando se tratou de justiça social".
FONTE: FOLHA PE.