O prefeito afastado Otacílio Alves Cordeiro, de Catende, Mata Sul do estado, preso no dia 02 de junho, em sua residência, durante a "Operação Tsunami", retornou, na madrugada dessa quarta-feira (21/06), para sua casa depois de 19 dias encarcerado no COTEL (Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna). Ele é acusado de comandar um esquema de corrupção e fraude de contratos firmados pela prefeitura da cidade entre os anos de 2011 e 2012.

Em entrevista exclusiva ao Portal Nova Mais, Otacílio se diz inocente das acusações de que tem sido alvo e que tem certeza de que será rapidamente absolvido pela Justiça. Ao repórter Márcio Roger, ele confessou que despachou ordens de serviço de dentro da cadeia, afirmou que sofreu com problemas de saúde, mas que estava rodeado de amigos, em cela especial, com direito à academia:

- “Eu preso lá (no COTEL) ainda mandei pagar 50% do décimo (13º salário). Como posso estar fazendo coisa errada? (...) Foram 18 dias de choro e tristeza. Eu passei 10 dias sem comer, só chorando. Pra mim o mundo ia se acabar. Minhas taxas de diabetes subiram muito, mas eu fui bem tratado, com cela especial junto com amigos. Lá tinha academia, saúde, fui muito bem recebido”, explicou.

Questionado sobre os mais de R$ 700 mil encontrados em sua residência, ele alegou que tudo está declarado ao imposto de renda como proveniente da venda de cabeças de gado. Ele argumentou também que todo o seu patrimônio é oriundo de seu trabalho como empresário forte da região:

- “Eu comecei a trabalhar com 10 anos. Tudo o que eu tenho é declarado no imposto de renda. Tenho uma vida independente, tenho minhas coisas porque trabalhei. Fui um empresário forte na região. O dinheiro encontrado na minha casa é do gado e está declarado”, disse.

Ele também disse lamentar as atitudes do prefeito em exercício Josibias Cavalvante, que, segundo ele, tem o hábito de  “desmoralizar todos os prefeitos que já administraram Catende:

- “Josibias tem o costume de desmoralizar todos os prefeitos que já passaram pela prefeitura. Ele é um homem muito maldoso. Eu me lembro quando o senhor Fernando Barros inaugurou o ginásio de esportes, Josibias quase deu nele. Brigou também com o ex-prefeito Odorico, brigou com o prefeito Milton Lins, brigou com Manoel Ramos, tentou brigar com Rildo Braz. Ele pensa que Catende é dele”, concluiu.

ADVOGADO NEGA ACUSAÇÕES

Dr. Marcelo Antônio, um dos advogados de Otacílio Cordeiro, que entrou com o pedido de prisão domiciliar, afirmou que as denúncias contra seu cliente e parte do secretariado são inverídicas e que o corpo jurídico já está reunindo provas de sua inocência. Sobre a acusação de contratos fraudulentos firmados pela prefeitura, uma das falcatruas atribuídas ao grupo criminoso, ele disse que desconhece a falta de legitimidade de qualquer processo licitatório no período investigado:

- “A informação que foi divulgada de que uma empresa de aviamentos fornecia alimentos para a prefeitura é inconsistente. Nunca houve esse contrato, pode conferir no processo. Sobre a empresa de eventos que teria feito serviço de conserto de computadores, é possível sim que, no seu perfil social, ela também ofereça esse serviço. E eu não tenho conhecimento de que ela não o faz”, justificou.

Além de Otacílio Cordeiro, também saíram da prisão em Recife mais cinco pessoas, entre as quais a nora do prefeito e o empresário palmarense “Hibi Eventos”. Ronaldo Alves Cordeiro, filho de Otacílio e proprietário do Posto Canavieiro, continua preso no COTEL.

ENTENDA O CASO

A Polícia Civil de Pernambuco, através da coletiva de imprensa ocorrida na sexta-feira (03/06), divulgou os dados coletados na 15° Operação de Repressão Qualificada, apelidada de "OPERAÇÃO TSUNAMI”, que prendeu, na manhã de quinta-feira (02/06), o prefeito Otacílio Cordeiro e parte de seu secretariado por crime contra a Administração Pública. As informações dão conta da apreensão de vultosa quantia em dinheiro, além de grande quantidade de armas e munições em posse da quadrilha apreendida.

As investigações dizem respeito ao período entre 2011 e 2012. De acordo com dados apresentados pela doutora Patrícia Domingos, da DECASP (Delegacia de Polícia de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos), que comandou todo o trabalho, o prejuízo total ao erário gira em torno de R$ 5 milhões. Segundo ela, a operação teve início em outubro de 2015, a partir de uma denúncia da Procuradoria-Geral de Justiça de Pernambuco, após suspeitas de superfaturamento de licitações da prefeitura com o Posto Canavieiro, de propriedade do filho do prefeito Otacílio Cordeiro, que não teve nenhum concorrente no processo licitatório:

- “Nós iniciamos as investigações a partir das licitações feitas entre a prefeitura e o posto de combustível de propriedade de um de seus filhos. Todos os contratos de fornecimento de combustível dos transportes ligados à administração foram assinados com esse posto”, explicou.

DINHEIRO EM POSSE DO GRUPO

Em posse da quadrilha havia uma enorme quantia de dinheiro em espécie. Na casa de Otacílio Cordeiro, dentro de uma gaveta, os policiais encontraram o valor de R$ 758.393,00 (setecentos e cinquenta e oito mil, trezentos e noventa e três reais). No Posto Canavieiro foram encontrados R$ 438.748,00 (quatrocentos e trinta e oito mil, setecentos e quarenta e oito reais).

Já na Gerar Produções, empresa envolvida nas licitações irregulares, havia o montante de R$ 75.383,00 (setenta e cinco mil, trezentos e oitenta e três reais).