Após mudanças, problemas e crises, a Feira de Caruaru resiste à força do tempo e continua sendo um dos principais polos têxteis do mundo, além de ser local de sustento de mais de 30 mil famílias, segundo a Associação dos Sulanqueiros. A feira começou na Fazenda Caruru - atual marco zero, passou pela Avenida Rui Barbosa, no Centro, até se fixar no Parque 18 de Maio. Apesar das mutações sofridas, a identidade do local permanece viva.
"Faz gosto a gente ver", como diz a composição de Onildo Almeida em homenagem à feira. Em média 30 mil pessoas visitam o local semanalmente, chegando a 80 mil compradores nos meses de junho e dezembro. O faturamento também é alto. Por semana, é movimento aproximadamente R$ 30 milhões. Os dados são da Associação dos Sulanqueiros.
Atualmente, existem 10 mil bancos cadastrados, além de barracos e feiras paralelas. "Por baixo, têm três pessoas trabalhando em cada banco. O sustento deles está ligado à feira. No mínimo, 30 mil pessoas sobrevivem disso", diz o presidente da associação, Pedro Moura.
v
Uma dessa famílias é a de Maria José, de 60 anos, que vende calças masculinas com o marido e com o filho. Segundo ela, a crise financeira do país tem atrapalhado o comércio. "Nós vivemos da sulanca. As vendas têm caído", conta dona Maria.
"Nós dependemos da feira. Esse ano está muito difícil, temos que dividir o valor com os clientes, que reclamam. A solução é trabalhar", afirma José Francisco, 38 anos, filho de Maria José.
A cada semana a feira da sulanca recebe pessoas de todo o país. Mas, são os asiáticos que preocupam os sulanqueiros. "Estamos enfrentando o produto chinês. Valor baixo e grande produção. Eles estão fazendo com que os fabricos da região fechem para comercializá-los", aponta o presidente da Associação dos Sulanqueiros.
Pedro Moura lamenta a "invasão chinesa" e alerta para a perda de identidade das produções. "Quando o cliente chega em Caruaru e não encontra o produto da cidade, termina deixando de vir. Isso enfraquece o polo", completa.
Feira nômade
A história da feira se confunde com a formação de Caruaru. Em meados do século XVIII, a Fazenda Caruru era ponto de encontro de boiadeiros, tropeiros e mascates. A comercialização de produtos teve origem por meio do escambo, que deu origem à feira. Mas, só se configurou de fato em 1781, com a construção da capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
Com a construção da igreja, o fluxo de pessoas aumentou. Batizados, casamentos e obrigações religiosas passaram a ser frequentes. De forma espontânea, o comércio começou a se organizar e favoreceu ao fortalecimento da feira.
Por causa do aumento no fluxo, depois de quase 200 anos, ela foi transferida em 1966 para a Avenida Rui Barbosa. Em decorrência da diminuição das vendas, voltou ao antigo local em 1969. Até que em 1992, se transferiu - no início de forma experimental - para o Parque 18 de maio.
Segundo o historiador Walmiré Dimeron, as mudanças fizeram a feira perder a atmosfera interiorana. Porém, não a identidade. "Ela perdeu um pouco da espontaneidade e do formato tradicional. Mas, na transferência foi mantida a alma da feira. Por isso, onde ela estiver será sempre a Feira de Caruaru. Ainda conseguimos identificar o ar de tradição", comenta.
Patrimônio Histórico
Em 2006, a Feira de Caruaru se tornou patrimônio histórico e artístico imaterial. O título foi concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que considerou "a Feira de Caruaru um lugar de memória e de continuidade de saberes, fazeres, produtos e expressões artísticas tradicionais".
"O que está na música de Onildo Almeida você consegue encontrar. A feira é um polo de resistência cultural muito grande. Ainda tem o que você procurar. O feirante é o personagem mais importante da feira, é a alma. A feira é a segunda casa dele, é de onde eles tiram o sustento. Ela está no inconsciente coletivo, é a maior referência de nossa identidade", conta Walmiré Dimeron.
G1